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Crítica | Os Anéis de Poder ep. 07: Tudo em aberto às portas do final

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Depois do melhor episódio da série desde a estreia, e estando às portas da conclusão de sua primeira temporada, é uma pena que Os Anéis de Poder tenha apresentado um episódio tão… desconjuntado quanto esse. Ainda foi um bom episódio, mas um tanto abaixo do que a série sabeprecisa fazer.

O episódio começa a partir das consequências da grande erupção vulcânica que, aqui, já mostrou em definitivo ter formado Mordor. Essa sequência já é um estudo de caso curioso, um exemplo micro das consequências macro da abordagem do seriado. É uma sequência visualmente de tirar o fôlego, aberta com um superclose nos olhos de Galadriel cobertos de cinzas, e todo o local está tingido de um infernal vermelho. Além de esteticamente impactante, a cena também é dirigida de forma a construir uma espécie de “caos plástico”, quase coreografado, talvez. É muito bonito, e uma belíssima imagem da criação de um lugar tão icônico quanto Mordor. Mas, nos detalhes finos, no “chão” da coisa, em termos de personagem, a coisa funciona bem menos. Como é o padrão de todo o seriado.

Até por conta de ter de obedecer o “Legendarium” de Tolkien, e de já sabermos os papéis que vários desses personagens desempenharão no futuro, as consequências práticas da catástrofe são mínimas. A rainha Míriel de Númenor fica cega, Halbrand fica gravemente ferido, Isildur está debaixo de escombros e parece não ter sido ainda encontrado e um de seus amigos soldados, Ontamo, morreu. Uma perda de visão e uma morte, além de um personagem que sabemos que vai sobreviver a isso e se tornar o antepassado de Aragorn, entre os personagens com nome na história, sendo que estavam debaixo de uma chuva de lava e pedras incandescentes da criação do reino do Senhor do Mal.

Não é só isso. É até curioso pensar em como Anéis de PoderA Casa do Dragão são opostos em suas abordagens (não é uma disputa, eu adoro os dois seriados, é apenas uma observação): enquanto a saga dos Targaryens é pequena, localizada, focada em disputas interpessoais e desenvolvimento de personagem, esta história da Terra-Média é muito mais grandiosa, ampla, realmente tentando passar a sensação de estarmos presenciando a criação de uma lenda — e a produção consegue; mas a consequência é que as histórias menores, mais pessoais, sofrem muito e parecem, por vezes, não ter importância alguma.

É o caso, por exemplo, de todas as picuinhas envolvendo Míriel, Galadriel e Elendil (ou mesmo as questões envolvendo a família dele, a filha que ficou pra trás e tudo mais). É difícil pensar que algum aspecto dessas subtramas seja de qualquer consequência quando estamos presenciando a ascensão do Lorde das Trevas e a criação de um reino inteiro quase brotando do chão. A coisa toda fica um tanto desequilibrada, infelizmente. Os personagens são carismáticos, mas a abordagem da série é distante, então a sensação é de não conhecermos as pessoas, apenas as figuras histórias, às vezes.

Por sorte, esse carisma (como já apontei outras vezes) salva alguns núcleos que padecem de problemas parecidos. Ainda está complicado entender como, exatamente, o mithril vai ser tão importante assim na sobrevivência dos elfos, então todo o drama entre Durin e seu pai (…também Durin) para minerar ou não o tal minério e ajudar Elrond ainda parece deslocado do todo. É tão grandioso quanto o resto da série, mas pouco imediato, vago demais. Neste episódio, presenciamos a cisão definitiva entre Durin pai e Durin filho, e os dois atores merecem os parabéns por sustentarem um conflito e fazê-lo parecer palpável mesmo que o motivo dele seja tão pouco concreto. Ao fim, vemos que lá embaixo, nas profundezas da Khazad-dum, o balrog já está à espreita. Num episódio que faz questão de mostrar um letreiro se convertendo de “Terras do Sul” para “Mordor”, a aparição deste balrog que será, futuramente, conhecido como “A Ruína de Durin” parece mais uma caixinha a ser “ticada” na lista de “eventos históricos que precisamos mostrar na prequel”.

Até por conta de sua distância do todo, e por se tratar de algo menos grandioso e lendário (até onde sabemos), a subtrama dos pés peludos continua sendo a parte que funciona melhor na série. Os dramas dos personagens são bem mais palpáveis, até por serem bem “menores” (trocadilho inevitável, entendam). Aqui, a caravana finalmente chega ao seu destino, mas o local foi atingido pela erupção de Mordor e está todo queimado, e a culpa acaba caindo no “Estranho”, que é expulso da comunidade. Enquanto isso, aquele conjunto de gente esquisita está cada vez mais próximo do grupo, atrás do homem do cometa. É outra trama muito aberta (nem sabemos quem é esse homem, mas ele continua a dar sinais de não ser Sauron, já que até começou a dominar seus poderes e criar vida), mas funciona melhor que a trama do mithril, por exemplo, porque a sobrevivência daquele grupo é algo bem mais relacionável e imediato.

Com isso, este penúltimo episódio deixou basicamente tudo em aberto. Ainda não sabemos quem é o Halbrand, o que aconteceu entre ele e Adar, quem é o Estranho, onde está Sauron, pra que serve o mithril na prática, nem quando o resto das tramas vai finalmente se juntar. Esta é a primeira temporada ainda, logo, com certeza o próximo episódio não deve responder todas essas perguntas. Mas algumas, pelo menos, precisam ser respondidas. É uma produção de enorme qualidade, então um voto de confiança ainda é válido. Aguardemos o season finale.

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