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Crítica | A Casa do Dragão ep. 05: Casamento, climão e carnificina no melhor episódio da temporada

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Tudo que vimos até agora em A Casa do Dragão culminou neste episódio. Tudo que os roteiristas cuidadosamente construíram foi recompensado num clássico de Game of Thrones e derivados: o casamento sangrento. Depois dos já clássicos Casamento Vermelho e Casamento Roxo, a comunidade ainda não decidiu com que cor batizar este evento… mas existe uma chance de acabar sendo chamado de Casamento Verde. E por um bom motivo.

Eu salientei algumas vezes ao longo das minhas críticas que a personagem da Alicent não teve grande destaque neste início de série, e isso ainda continua verdade, mas talvez isso tenha a ver com a sua caracterização. Ela é uma personagem de poucas palavras, bem mais discreta que as personalidades chamativas de um Daemon ou Rhaenyra — mas isso não quer dizer que ela não venha sendo bem construída em segundo plano. Neste quinto episódio, ela começou se vendo sozinha, com o pai Otto saindo da Fortaleza Vermelha depois de ser demovido de seu cargo de Mão do Rei, e precisando se virar sozinha, o que faz com que ela comece a contar com sua habilidade de usar informações a seu favor… além de um pouco de sorte. Alicent teve pouco tempo de tela, mas ainda se fez presente ao final, quando chegou ao salão do anúncio de casamento de Rhaenyra e Laenor Velaryon trajando um vestido verde que  gritou “guerra” a todos que entenderam o recado.

A sorte, no caso, foi porque basicamente todo o resto do elenco é formado de gente maluca. Sabe quando alguém usa o argumento de que uma cena, um filme, uma série, que seja, é “ruim” porque o personagem principal é “burro”? Então. Em Casa do Dragão, quase todo mundo, na verdade, é meio “burro” (talvez “inconsequente” seja a palavra mais precisa, mas menos engraçada) e é justamente isso que dá graça pra coisa toda. Quase todo mundo — principalmente os Targaryen — toma as piores decisões possíveis no pior momento possível, e é por isso que temos conflitos tão deliciosos pra acompanhar.

O primeiro “botão do f***-se” do episódio foi do Daemon, que simplesmente decidiu matar a esposa. Foi uma cena muito triste, porque a temporada passou quatro episódios construindo a aparição de Rhea Royce como uma mulher horrorosa e desagradável, mas quando a vemos, a verdade vem à tona, e uma que faz completo sentido: Rhea Royce não é a menininha submissa que Daemon precisa, e ele não consegue lidar com uma mulher que responda à altura; mais uma camada da insegurança que Daemon tem em relação à sua masculinidade. É uma pena que não tenhamos mais cenas com ela, já que é mais uma personagem interessante que o Daemon mata na série… mas confesso que a cena específica da morte não ficou boa. A direção não deixou claro exatamente o que o Daemon fez para que o cavalo se agitasse e caísse exatamente do jeito que ele precisava, ou se foi apenas coincidência. Ficou estranha, mas ainda não tira o significado do que o personagem fez.

Depois disso, temos um período do episódio que dá a impressão de que tudo pode ficar bem. Acordos que fazem sentido são costurados, para que tudo possa se resolver da forma mais diplomática possível. Rhaenyra fica noiva de Laenor com o acordo de que os filhos se chamem “Velaryon” mas passem a ser “Targaryen” quando subirem ao trono, e a linhagem não seja quebrada. Rhaenyra e Laenor entram em um acordo bastante moderno de “relacionamento aberto”, já que Laenor é gay: eles cumpririam suas obrigações com o reino e cada um teria a liberdade de estar com quem quisesse “por fora”. Tudo do jeito que tinha que ser. É muito interessante como a série nos mostra o que dá pra fazer, pra depois puxar o tapete de todo mundo e jogar esses acordos por água abaixo.

E o primeiro elo fraco da corrente é nosso querido Criston Cole, que, digamos, garoteou forte aqui. Depois de 1 (uma) unidade de noite de amor com Rhaenyra, o homem simplesmente não conseguiu lidar com o que ele considera uma grave quebra de seu voto (porque é mesmo) e fez a proposta mais estapafúrdia possível: convidou a herdeira do trono de Westeros para fugir com ele para Esses e viver de amor. Então tá, né. Depois disso, ele caiu numa jogada que a Alicent nem estava fazendo de verdade, e confessou um crime sem que ninguém o tivesse acusado, provando que, se ele ficasse quietinho, nada ia acontecer com ele. Simplesmente impressionante — e, principalmente, muito divertido.

Mas, por mais que suas atitudes tenham sido absolutamente idiotas, ainda é algo que devemos examinar: como o episódio passado começou a adiantar, e como já citado em Game of Thrones, “é sempre o povo que sofre as consequências quando os nobres jogam seu jogo de tronos”. Criston Cole explodindo no casamento (mais uma vez, a partir de muito pouca coisa: o amante secreto de Laenor, Joffrey Lonmouth, quis dar uma provocada e mostrar que os dois precisavam ser aliados — e eles precisavam, sim! — já que estavam em situações parecidas, e Cole não suportou o medo de seu segredo vazar ainda mais e estourou a cara do homem) é resultado de uma bola de neve de decisões egoístas por parte dos nobres para cada um manter sua própria posição e ainda satisfazer as próprias vontades. Criston Cole já é um homem crescidinho, mas também foi usado por uma pessoa em posição de poder e ficou “sem escolha”, e isso o deixou desestabilizado. Duas coisas podem ser verdade ao mesmo tempo, e é isso que faz de Casa do Dragão tão interessante, sua capacidade de fazer com que todo mundo tenha um pouco de culpa e um pouco de razão. Mas, no fim, os mais afetados por isso foram dois cavaleiros de casas pequenas e quase nenhum prestígio: um, desonrado, e o outro, morto.

Mas não só eles: o próprio Laenor foi uma enorme vítima de tudo que aconteceu. E se o ator, Theo Nate, parecia um display de papelão nas poucas falas que teve no episódio da batalha contra o Engorda Caranguejo, aqui, sua atuação na cena final, fazendo os votos no casamento apressado com Rhaenyra com a voz embargada no salão vazio ainda com o sangue de seu amado no chão, foi de cortar o coração. Essa tomada final é uma das melhores da série até agora: depois de Vyseris cair no chão, doente, a câmera abre e vemos a poça de sangue com um rato bebendo, alheio a tudo. Os ratos na Fortaleza Vermelha são outro símbolo construído ao longo da temporada, uma pequena metáfora da podridão dessa corte.

Foi um episódio riquíssimo, cheio de coisas para comentar. Nem cheguei a falar de Vyseris, outro “coitado”, eternamente tentando alcançar a aprovação de todo mundo, mais preocupado com seu “legado” do que em efetivamente governar, cheio de planos grandiosos de torneios e banquetes e tudo mais que nunca dão certo, literalmente apodrecendo diante dos nossos olhos. Ou mesmo Otto, que mal apareceu mas meio que foi o estopim dessa virada de Alicent — e, mais uma vez, palmas para Rhys Ifans, que consegue fazer Otto parecer uma vítima quando faz seu discurso para a filha, sendo que sabemos que é tudo perfeitamente calculado. Nem cheguei a falar que o Criston Cole ia cometer seppuku!! Coisas demais pra cobrir, aqui.

Foi, de longe, o melhor episódio da temporada. Semana que vem, teremos mais um salto no tempo, e perderemos alguns desses atores, logo, foi uma digna despedida de Milly AlcockOlivia Cooke nos papéis de Rhaenyra e Alicent respectivamente, além de um ótimo clímax de tudo que assistimos até agora.

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