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Crítica | A Casa do Dragão ep. 06: Os anos passam, a raiva fica

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Por boa parte deste sexto episódio, A Casa do Dragão parecia ter — apropriadamente, inclusive — “resetado” sua trama. Era como se tivéssemos um novo “episódio 1” depois desse mais recente salto no tempo. Ao fim dele, a sensação é a de que as tensões não foram reiniciadas, mas continuam em cada vez mais intensa crescente. Ainda bem.

Depois do final 90 Dias pra Casar do episódio anterior, pegamos os personagem 10 anos depois do ocorrido no anúncio do casamento de Rhaenyra TargaryenLaenor Velaryon. Os filhos de Alicent Hightower e do rei Viserys (que, nesse meio temp, veio aplicando o mesmo skincare do nosso excelentíssimo presidente Bolsonaro) já estão maiores, e o casal Rhaenyra/Laenor tem agora seus próprios filhos — todos eles a cara do simpático Harwyn Strong, um personagem que está presente na série há alguns episódios mas basicamente vinha servindo de cenário enquanto outras coisas aconteciam em primeiro plano. Enquanto isso, Daemon e sua esposa Laena Velaryon estão em Essos, na cidade de Pentos, decidindo o que fazem da vida.

Como essa é uma trama de intrigas palacianas totalmente centrada em quem é quem na linha sucessória real, nada mais apropriado que abrir o episódio com um parto — e nada mais irônico, também, já que é o terceiro parto de Rhaenyra, uma pessoa que já havia declarado ter pavor de ser reduzida a uma geradora de prole. Mas ainda é a Rhaenyra, e talvez ela tenha sido a personagem que menos mudou nesse salto de tempo: mesmo consideravelmente mais conciliadora com a maturidade, a “energia” dela continua a mesma. A troca do elenco é inevitável e, na maior parte do tempo, a série faz um trabalho brilhante de escolha de atores para os papéis (ainda é muito estranho que o elenco Velaryon tenha “crescido duas vezes” enquanto o resto do elenco só uma, mas paciência…). Embora seja uma pena perder Milly Alcock, Emma D’Arcy já mostra a que veio nos primeiros instantes em cena, na ótima cena na qual ela atravessa a Fortaleza Vermelha sangrando logo após o parto com o bebê nos braços. A posição que o roteiro deixa a personagem é muito curiosa, também: ela precisa lidar com todos os problemas de ser uma mulher naquela posição ao mesmo tempo, desde a dor do parto até as inconveniências (e dor, mais uma vez) da lactação, mesmo numa reunião de conselho de governo. Logo ela. É muito inteligente.

Já outros personagens quase mudaram da água pro vinho, e a principal delas foi Alicent, aparentemente agora totalmente convertida a Otto 2.0, focada apenas e somente em garantir a posição de sua família e seus filhos na linha sucessória. Olivia Cooke compõe uma Alicent completamente diferente da versão de Emilly Carey, muito mais enérgica e intensa, e o trabalho de personagens do roteiro é tão bom que podemos completar com precisão em nossas cabeças tudo que aconteceu nesses 10 anos que não a vimos: o que você acha que ia acontecer com a cabeça de uma moça que já sofria de ansiedade depois de passar 10 anos com um marido bundão semi-moribundo e três filhos Targaryen também potencialmente lelé das ideia, num clima de eterna paranoia alimentado pelo Petyr Baelish– digo, Varys– digo, Larys? Obviamente que ela ficaria como a vemos a partir de agora, desequilibrada e intolerante. E, é claro, pronta para fazer os conflitos explodirem a qualquer momento.

Uma grande surpresa é a mudança de Daemon, que, suponho eu, está cansado de todas as picuinhas reais pelas quais ele teve que passar (…ele causou praticamente todas elas, mas enfim), disposto a aceitar se tornar basicamente um capataz de um lorde de Pentos e continuar a combater a Triarquia nos Degraus. Essa talvez tenha sido a parte menos interessante do episódio, mas pode ter sido por conta da distância do centro dos conflitos na corte de Westeros, além da continuidade de um problema crônico com a série: até agora, não estão exatamente claras as consequências do domínio da Triarquia na região. O que está clara é a negligência da corte e do rei Viserys, muito mais disposto a assistir os netos treinando com a espada do que a de fato discutir soluções para um problema militar de décadas.

Essa discussão toda sobre como cada personagem ficou depois no salto do tempo parecia, por um período do episódio, ser a tônica desse reinício da trama, e poderíamos ficar aqui discutindo vários outros detalhes curiosos (como Criston Cole fazendo cosplay de homem que levou fora no direct do Instagram), não fosse por uma enormemente grata surpresa: Larys Strong.

A Casa do Dragão costuma ser um exercício de criação de tensão, e o episódio parecia ser isso, um posicionamento de peças para que criássemos as expectativas do que aconteceria a seguir, mas eu realmente não esperava que Larys fosse um agente do caos tão implacável assim. Um lado ruim disso é que, assim, a série fez mais uma vez aquilo que ela parece mais gostar de fazer: eliminar personagens legais antes que tivéssemos mais tempo com eles. Engorda Caranguejo, Rhea Royce, e agora Harwyn Strong, que parecia um cara legal, nas, sei lá, 4 vezes em que abriu a boca na série toda. De qualquer forma, o drama agradece.

Essa escalada repentina de Larys é, inclusive, um elemento a mais na caracterização de Alicent. Ela, mais uma vez, se vê em uma situação muito maior e mais grave do que gostaria. A personagem claramente não esperava que Larys efetivamente matasse a própria família. E não foi a única morte do episódio, porque também perdemos outra personagem carismática que tínhamos acabado de conhecer, Laena, que pediu para Vhagar (palmas para o design dos dragões na série — a Vhagar envelhecida é fascinante) queimá-la e acabar com a dor de seu parto.

E, assim, o sexto episódio de A Casa do Dragão abre com um parto e fecha com muitas mortes, que é, no fim das contas, o ciclo eterno desse enredo. Quando pensávamos que haveria um momento de respiro, o roteiro tratou de fazer com que tudo escalasse ainda mais. A série continua a criar uma temporada fortíssima, e se estabelecer como algo com personalidade própria, à parte de sua antecessora.

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