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Crítica | A Casa do Dragão ep. 07: O conflito avança, talvez rápido demais

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Tanta coisa aconteceu neste episódio que é difícil saber por onde começar — o que é ainda mais curioso, se pensar que este é praticamente um “bottle episode”, aqueles episódios de série que se passam em apenas um ambiente, no caso, a ilha de Driftmark. Mas isso é mais uma consequência da escolha de comprimir o máximo possível de tempo na primeira temporada, para que (suponho eu!!) o conflito esteja plenamente preparado e se desenrole de modo mais convencional a partir da segunda.

Sabe qual o maior sacrifício dos vários saltos no tempo de A Casa do Dragão? A quantidade de bons atores que só têm a chance de viver esses personagens por um ou dois episódios. As maiores perdas aqui, justamente por serem os maiores destaques do episódio, foram as crianças. O elenco infantil deste episódio roubou a cena e entregou tudo que tinha que entregar em cena, num momento chave para a trama que é todo centrado nos filhos de RhaenyraAlicent.

A começar pelas cenas que acompanham o sepultamento de Laena Velaryon, primeiro com seu caixão sendo jogado ao mar, e depois no velório com vários membros da corte. Todo esse início do episódio é dirigido para ser a experiência mais desconfortável possível, e funciona. É tudo muito constrangedor. Desde o riso de deboche de Daemon quando é falado que “o sangue dos Velaryon não deve ser afinado”, passando por todos os olhares desconfiados no velório, Laenor Velaryon quase se matando no mar, Rhaenyra praticamente sozinha em meio à sua família, até Viserys chamando sua atual esposa pelo nome da antiga, provavelmente por já estar muito debilitado pela doença. Mas os filhos dessas famílias são os que pagam pelo clima esquisito, como sempre: A Casa do Dragão parece especialista em colocar crianças em situações constrangedoras e diálogos desconfortáveis, e desta vez, foram os pequenos Stron– digo, os pequenos Targaryens JacaerysLucerys serem obrigados a confortar as pequenas Baela Rhaena, enquanto eles mesmos não podem ficar de luto por aquele que eles sabem ser o pai deles, Harwyn Strong. Enquanto isso, os pequenos psicopatinhas filhos da Alicent estão ou bêbados, ou desinteressados, ou declamando profecias para insetos (Halaena melhor personagem, hein).

Esses trechos mais intimistas de Casa do Dragão no qual os diferentes ramos da família se encontram são uma maneira muito eficiente de não só criar aquele crescendo de tensão que a série sabe fazer muito bem, aquela sensação de “barril de pólvora” eternamente prestes a explodir, como também de demonstrar como a criação turbulenta pela qual essas crianças passam não poderia criar nada além de um bando de desequilibrados. É um turbilhão enorme de pressões e expectativas que o seriado está sempre trabalhando, criando a dicotomia entre liberdade e dever (sempre lembrando que esse dever nunca é para com o povo, praticamente ausente na série, mas com a própria Casa), sempre com alguém mais velho usando as crianças para os próprios interesses. Aqui, temos dois momentos muito importantes nesse sentido. Primeiro, o diálogo entre Corlys Velaryon e a esposa Rhaenys Targaryen, no qual a Rainha Que Nunca Foi escancara a hipocrisia do próprio marido, que usava a injustiça pela qual ela passou como desculpa para ir em busca das próprias ambições. E, depois, talvez um dos menos comentados momentos chave da série: depois de todos os conflitos no trecho final, Otto Hightower finalmente fala em voz alta o que já sabíamos, declarando que sempre esteve jogando o jogo (dos Tronos!!! hah!) mas não sabia se Alicent tinha a determinação para vencê-lo, deixando claro que manipulou a filha para que tudo chegasse àquele ponto. Não que tudo tenha sido planejado — é o Otto Hightower, não o Ozymandias do Watchmen —, mas ele com certeza deu o estopim e foi navegando pelas consequências.

Infelizmente, o episódio passa por um período muito esquisito no trecho do meio. Foram as cenas mais feias de toda a série até aqui, que vinha contando com um design de produção e uma fotografia belíssima até então. Além de todas as reclamações das cenas escuras demais, tivemos um longo período de cenas gravas em “day for night”, ou seja, cenas gravadas de dia, com um filtro escuro e azulado para simular noite. Ficou não só difícil de ver, como horroroso, com rostos completamente iluminados e sombras muito bem marcadas quando Daemon e Rhaenyra deveriam estar caminhando sozinhos na calada da noite. O que é uma pena, porque é uma cena importante. Enquanto vimos que Alicent foi jogada nessa vida pelo pai e se tornou uma mãe paranoica e intransigente, Rhaenyra demonstra aqui que se sentiu abandonada durante todos esse anos, sem o tio/amante, a ex-melhor amiga, o pai doente, e agora o amante assassinado. Depois de a vermos como uma jovem cheia de energia, com o “fogo” da família Targaryen queimando forte, agora ela se vê num momento de muita fragilidade, sem ter nenhum confidente, já que mesmo o marido a deixa constantemente sozinha.

E é aqui que o episódio ficou ao mesmo tempo bem mais interessante e bem mais estranho. Porque, além de o seriado queimar (…muitos, literalmente) um monte de personagens um atrás do outro por conta de sua estrutura de saltos no tempo, várias coisas precisam acontecer para que a trama avance e, por vezes, a coisa toda fica apressada demais. Temos primeiro todo o ótimo trecho totalmente protagonizado pelo elenco infantil da série, no qual todos eles entregam cenas cheias de raiva pura e ressentimento entalado na garganta (isso sem nem mencionar a divertida cena de Aemond domando Vhagar, na qual o ator Leo Ashton atua muito bem na tela verde — eu só queria ter conseguido ver melhor a tal da cena), e depois, a cena em que os lados do conflito, os Verdes e os Pretos, são finalmente definidos, contando até com um “standoff” em que eles se separam cada um de um lado do salão. Mas essa cena, para mim, pareceu uma culminação que, embora faça sentido dentro do que a série construiu, acabou soando forçada para aquele momento.

Aemond aparece com o olho cortado, e um longo debate começa no qual acusações sobre os filhos de Rhaenyra são expressadas publicamente pela primeira vez, Viserys (sempre ele) tenta pôr panos quentes em tudo, inclusive passando por cima de Alicent para isso, e a atual rainha simplesmente tenta matar a herdeira na frente de todo mundo. É legal, é conflito, é novelão, mas é o tipo de coisa que só acontece nessa velocidade porque a temporada precisa cobrir muito tempo das vidas dos personagens para chegar ao este ponto.

Mas esse nem chega a ser o momento mais gritante. A coisa fica mais esquisita quando temos uma montagem na qual Rhaenyra e Daemon criam o plano de mandar Laenor embora com o amante Qarl (um final feliz!!!!) para que eles possam assim se casar numa cerimônia valyriana e firmar seu lado do conflito com mais força, com o apoio dos Velaryons. Tudo nesse trecho acontece muito rapidamente e de forma pouco natural. Parece tudo meio fácil demais, só alguns acordos, uma morte forjada, um casamento escondido e segue o jogo.

É possível que este seja o último salto no tempo. A prévia do próximo episódio mostra os filhos de todo mundo já praticamente adultos, Aemond de tapa-olho e tudo (é muito estranho como as mudanças físicas dos personagens ficaram incongruentes ao longo da temporada) e, como os lados estão muito bem definidos, a Dança dos Dragões está praticamente pronta para começar. Foi um caminho um tanto tortuoso, mas a qualidade da produção e do trabalho de personagens mais do que compensa os problemas de percurso. A temporada está próxima de chegar ao fim e, com o que vimos até aqui, podemos confiar que teremos um clímax de alta qualidade.

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