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Crítica | A Casa do Dragão ep.10: Que venha a Dança dos Dragões

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Depois de uma primeira temporada bombástica e muito bem recebida, A Casa do Dragão conseguiu concluir sua primeira etapa com um final à altura de todas as suas qualidades. Passamos por uma série de saltos no tempo, percorremos mais de 20 anos de história da família Targaryen no Trono de Ferro de Westeros e agora, finalmente, chegamos à Dança dos Dragões — de um jeito completamente diferente do que se esperaria.

Como já comentei antes, não é difícil interpretar que o seriado toma bastante o lado dos Pretos, os aliados de Rhaenyra Targaryen. Por mais que Alicent, sua contraparte nos Verdes, tenha contado com certo esforço da produção para ser uma figura simpática, uma quase-vítima das circunstâncias (afinal, ela foi usada pelo pai do começo ao fim), é fundamental perceber que o penúltimo episódio, focado nos Verdes, foi um episódio de “ataque”, enquanto este último, todo sobre os Pretos, foi sobre como eles recebem o ataque e se vêm na posição inevitável de contra-atacar. Existe uma lógica muito clara, aqui.

Além disso, este season finale foi a história de como Rhaenyra, filha, mãe, mulher, recebeu uma série de golpes em sequência num espaço de dias, horas, talvez. Primeiro, a morte do pai, Viserys; depois, o golpe de estado, roubando seu direito à coroa; depois, o bebê natimorto; em seguida, o marido agressivo; e por fim, a morte de mais um filho. A figura da Rhaenyra sempre foi uma das mais interessantes na série (atrás apenas de Viserys) por conta de como ela sempre foi, uma rebelde, avessa às obrigações habituais do papel da mulher nesse contexto “medieval fantástico” — e existe uma crueldade especial em colocá-la como protagonista de mais um triste paralelismo narrativo: Casa do Dragão abre com sua mãe, Aemma, aquela que declarou que “a mesa do parto é o campo de batalha da mulher”, perdendo um bebê no parto, e fecha com Rhaenyra igualmente perdendo seu próprio filho no parto (com o adendo de este último bebê ter algo de estranho, daquelas lendas de “crianças dragão deformadas dos Targaryens”). Ver como ela era uma adolescente rebelde e depois se provou uma pessoa com um admirável autocontrole é muito interessante.45rtttttt

autocontrole é uma questão fundamental neste episódio final. Um dos elementos mais importantes de Casa do Dragão para contextualizar a sua versão da origem da guerra civil Targaryen é que muito desse conflito foi planejado, mas uma outra parte muito significativa tem a ver com enganos e descontroles e inconsequência. É por isso que é importante perceber como Rhaenyra não simplesmente aceita as sugestões do marido Daemon de partir imediatamente para uma guerra. Assim como temos uma ótima explicação para o fato de Rhaenys não ter simplesmente mandado um “Dracarys!” na coroação do Aegon: a casa dela, os Velaryons, ainda não havia decidido de que lado estava, não foi o trono dela que foi tomado, então não é ela quem deveria começar a guerra. Considerando tudo que ela passou, e o calor daquele momento, é louvável o quanto ela conseguiu não matar todo mundo naquela hora. Não só um feito de autocontrole, mas também uma prova de como ela é uma exímia montadora de dragões (mais sobre isso mais tarde). Além disso, na linda cena da coroação de Rhaenyra, Rhaenys é a única que não se ajoelha, demonstrando muita personalidade e autoridade — é uma personagem com muito potencial para fazer mais do que fez até aqui.

Outro que voltou a demonstrar, depois de certo tempo, seu descontrole e quem ele realmente é, foi Daemon. Até certo ponto, é quase compreensível: nos últimos episódios, Daemon mostrou que, por mais abublé das ideia que ele fosse, seu amor pelo irmão era genuíno, assim como (presume-se) seu amor ou, pelo menos, dedicação a Rhaenyra. Quando ele recebe a notícia, a primeira coisa que faz é planejar a guerra, o que pode ser precipitado se for seguido por um ataque impensado, mas o planejamento faz sentido. Mas, quando Rhaenyra começa a passar por cima de suas decisões militares, temos uma cena assustadora na qual ele enforca a esposa (e rainha!!) para tentar afirmar a própria autoridade (e, de certa forma, a própria masculinidade, uma neura que ele tem desde o começo da série). Em seguida, Rhaenyra fala da profecia, e percebe que Viserys nunca havia contado ao irmão, ou seja, nunca o considerou candidato ao trono, o que fere o ego de Daemon. É não só (mais) uma ótima performance de Emma D’Arcy, que consegue transmitir uma série de camadas de sentido com muito pouco texto, apenas com um olhar certeiro e a frase “Ele nunca te contou…?”, como também adiciona mais uma camada ao conflito: além de tudo que já listei acima, Rhaenyra agora precisa lidar com o ego ferido do marido, e uma disputa interna para saber quem manda mais.

O último passo do processo é o que todos esperávamos desde a estreia da temporada. Os dois filhos de Rhaenyra, LucerysJaecerys, são enviados como mensageiros aos aliados em potencial da causa da Rainha. Lucerys vai pedir o apoio dos Baratheon, mas Aemond já estava lá, e o apoio foi perdido. Na volta, Aemond, outro Targaryen neurótico com sua falta de poder e autoridade, quer vingança pelo olho perdido alguns episódios atrás e, assim, temos finalmente uma batalha de dragão! Quer dizer, quase. Fica claro que essa luta é uma continuação da briguinha de criança de episódios atrás, e que boa parte desses conflitos em Casa do Dragão são crianças que crescem rodeadas de muita pressão, muita gente dizendo que eles são incríveis, muito poder à sua disposição, e pouquíssimo limite. A cena é muito boa, com os dragões voando por uma tempestade em alta velocidade, e a direção se aproveitando das características únicas de cada dragão individualmente, principalmente o caráter “Godzillesco” de Vhagar. No fim, Vhagar destrói o dragão de Lucerys, com o menino junto, o que não era exatamente a intenção de Aemond — e a Dança dos Dragões tem início, com um adolescente rancoroso matando uma criança quase que por acidente.

Foi uma sólida primeira temporada. Assim como Anéis de Poder, foi uma temporada inteira para introduzir seu mote principal. Foram necessários vários “time skips” para chegarmos no ponto certo da história, com todas as peças no lugar — e olha que nem eram tantas peças assim. O seriado tem seus problemas, principalmente o fato de o escopo ser muito reduzido, mas um conflito tão grande vai precisar abrir seus horizontes para mais núcleos de personagens (como demonstrou todo esse planejamento para conseguir aliados) e talvez tenhamos mais que os salões dos Targaryens daqui para a frente. A Casa do Dragão não chega a ser tão bom quanto os melhores momentos de Game of Thrones, mas é com certeza muito melhor que suas últimas temporadas. Os fãs agradecem.

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