Sair da cidade, abandonar uma vida estressante e ir morar no campo. Há um certo romantismo nessa ideia, mas existem algumas questões a serem resolvidas na vida. Por outro lado, nos videogames, a ideia é muito mais interessante, prazerosa e bastante divertida.
O gênero “simulador de vida” sempre esteve aí, mas só depois do jogo Stardew Valley, que trouxe uma combinação de ideias e elementos atrelado ao gênero RPG para entregar uma fórmula um pouco diferente, um novo fenômeno se propagou e o que não falta são jogos similares brotando de tudo que é lugar. Logo, não basta replicar uma fórmula do sucesso, é preciso ir além para se destacar. E, de certa forma, Potion Permit até que brilha.
O jogo pega vários elementos de jogos de RPG, mecânicas e ideias e faz uma mistureba interessante na forma como as coisas acontecem e se conversam. Tudo com um pitadas de simulador de vida. O tempero é o charme e o apelo visual com pixel art charmosa. Ah, e antes de começar, vá nas configurações e mude o idioma do jogo para Português (BR).
Um estranho na cidade
Você é um alquimista enviado para a Ilha de Moonbury, uma cidadezinha isolada, cuja missão é salvar a filha do prefeito e ajudar a todos os moradores com seu conhecimento, mas é preciso fazer as pessoas mudarem a má reputação sobre os alquimistas… um colega de trabalho causou problemas, abalou a fauna e flora locais, irritou os habitantes e foi embora.
A sua chegada à cidade é por trem e durante a viagem, o jogo permite personalizar bastante o seu avatar — escolher o sexo do protagonista, dar um nome, harmonizar as cores do vestuário, cabelo, tom de pele e cor dos olhos. Só nesse começo o jogo se mostra promissor. E você tem um cachorrinho que te segue para todo lugar… e dá para fazer carinho e alimentar ele! Papo sério, é difícil não gostar desse jogo.
Sua chegada na cidade tem uma recepção fria e de olhares tortos de repulsa da maioria dos habitantes, mas tão logo você usa habilidades para curar a filha do prefeito e vira inimigo do xamã local, eventualmente você consegue interagir com as pessoas para conhecer suas rotinas e mudar a visão pessimista que todos têm de você.
A interação é uma das coisas mais interessantes do jogo. A cidade não é gigante, mas tem pequenas coisas e situações interessantes. Como há passagem de tempo simulando manhã, tarde e noite, isso meio que impõe uma rotina para o jogador. E o visual fica incrível nos três momentos do dia, com a iluminação afetando os ambientes. É curioso como cada habitante segue certas rotinas de segunda a domingo.
Interagir com diferentes habitantes uma vez por dia, em diferentes horários, além de preencher um pouco sua barra de reputação, também liberam atividades. Inicialmente os acontecimentos são bem orgânicos e você pode seguir uma pessoa o dia todo para ver o seu comportamento, preferências e obrigações. Horários no fim de tarde normalmente movimentam a galera rumo à taverna local com um salão de jogos. É bem interessante como pequenas novas histórias vão aparecendo a ponto de você querer mais e se importar com algumas pessoas.
Tempo e energia
Diferente dos RPGs convencionais, você é obrigado a dormir a partir de determinada hora da noite para acordar cedo. Se tentar forçar a virar a noite, o protagonista desmaia de cansaço e acorda no dia seguinte, perdendo horas matinais importantes.
Sim, você vai tentar fazer o máximo de atividades diárias que puder, algumas exigem certas condições, outras levam bem mais tempo já que dependem de dias específicos e certos horários. É preciso intercalar sua interação social e com a exploração da floresta com seu principal trabalho: gerenciar o hospital local.
Tanto a sua casa quanto o hospital estão caindo aos pedaços, mas conforme seu nível social vai melhorando com alguns habitantes (ferreiro e carpinteiro, por exemplo) e como parte do progresso da trama também, obtêm-se reformas, acesso a melhorias, criação de equipamentos de alquimia e conforto. Estreitar laços com os habitantes, além de liberar missões extras, atividades e trabalhos paralelos, possibilita arranjar um(a) namorado(a). Aliás, aumentar o nível de afeto com seu cachorro também garante benefícios: fora da cidade, seu bichinho ajuda farejando e escavando itens — lembre-se de dar carinho e alimentar seu doguinho.
Além da interação, há um território ainda maior em torno da cidade a ser desbravado e coisas a serem consertadas. Obtendo reconhecimento e confiança, ganha-se acesso a novas áreas com plantas e bichos. Nelas é possível usar três ferramentas (foice, martelo e machado), úteis tanto para cortar mato, quebrar pedras e cortar árvores, respectivamente, quanto lutar contra criaturas da região.
O personagem possui uma barra e HP e uma de Resistência, esta última se desgasta conforme usar as ferramentas. Quando a barra zera, é preciso usar algum item para repor um pouco da energia ou não poderá usar as ferramentas… e caso fique enrolando demais, a fadiga te vence e você acorda na sua casa. Dormir ou tomar um banho relaxante na casa de banhos ajudam a revigorar sua energia, principalmente quando precisar coletar muitos itens essenciais.
Chamado do dever
É preciso ficar atento à sirene de emergência da cidade. Sempre que ela tocar, pacientes estarão na clínica e você deve examiná-los para descobrir o problema em alguma parte do corpo e então criar um diagnóstico. O interessante é que tanto no exame quanto no diagnóstico ocorrem na forma de minigames de ritmo, que são simples, mas criativos e que prendem a sua atenção.
Sempre que o diagnóstico é feito, um medicamento precisar ser criado na máquina de alquimia da sua casa, mas é preciso ter os ingredientes para tal. Por isso é importante, sempre, explorar a floresta em busca de recursos naturais e até matar animais selvagens para coletar materiais diferenciados. Estocar e renovar é uma constante, pois é crucial medicar o paciente dentro do tempo limite ou sua barra de reputação com ele vai diminuir. Pois é, um vacilo e você fica mal falado. Sacanagem!
A máquina de alquimia também funciona como quebra-cabeças, onde é preciso encaixar as peças dentro dos espaços, porém respeitando a quantidade permitida e, em alguns momentos, as cores. Há uma ampla variedade de materiais para alquimia e eles trazem “diferentes formatos”, como peças de Tetris, o que permite fazer os encaixes e todo um malabarismo mental para criar o item desejado. É interessante e criativo, embora do meio para fim do jogo a coisa fique mais complexa: a quantidade de pacientes aumenta, exigindo uma ação que o ritmo do próprio jogo quase não permite a você medicar a todos, levando a uma repetição que reduz a exploração.
Conforme abrir novos territórios e ir cada vez mais longe, é mais difícil manter as suas responsabilidades. Calma, errar é permitido, afinal não dá para agradar todo mundo o tempo todo. Pelo menos você habilita alguns pontos de viagem rápida, embora alguns trechos gigantescos o obriguem a andar MUITO (faltou uma distribuição melhor de pontos de viagem rápida) e, em alguns momentos, é preciso ficar DIAS coletando materiais na floresta (fauna e flora se renovam sempre que você dorme).
Também há um minigame de pescaria que exige paciência e é bem simples. E só através da pesca é possível coletar ingredientes como carne branca (que pode ser comida crua), o que permite criar melhores poções para recuperar energia.
A vida pode ser (des)complicada
Não demora muito para Potion Permit entregar uma série de mecânicas distintas que conversam bem entre si e entregar uma jogabilidade que se mantém constante e atraente. Quanto mais avançar, mais vai sentir que o time de desenvolvimento não economizou no amor e nas ideias para entregar uma experiência envolvente, apaixonante e ambiciosa. Mas é por trás da ambição que alguns problemas técnicos ficam evidentes.
Em alguns trechos, principalmente quando você tenta fazer várias tarefas, alguns diálogos de personagem podem aparecer trocados. Também pode ocorrer alguns travamentos com o personagem preso nas telas de transição do menu ou em objetos do cenário, e isso implica em sair do jogo e carregar a informação para voltar do ponto onde parou.
Felizmente o save automático ajuda muito e o pessoal da MassHive está trabalhando para soltar atualizações e corrigir os problemas. Por outro lado, duas coisas podem incomodar para quem esperava um pouco mais do lado RPG de ação aqui: os combates são extremamente simplórios e, no máximo, você pode aprimorar suas ferramentas para serem mais eficientes/fortes. Mas o principal de tudo é que o jogo não tem nenhum tipo de desafio ou dificuldade.
Chega um momento que alguns de seus sistemas ficam subutilizados, além de algumas barreiras artificiais te obrigarem a coletar materiais demais, emperrando a progressão até cumprir certos objetivos.
Apesar disso, Potion Permit ainda segura bem as pontas e continua prazeroso de jogar. De um jeito ou de outro, ele prende você por umas boas horas de diversão, onde na maior parte do tempo você estará com aquele sorrisinho bobo de satisfação sempre que cumprir tarefas e descobrir novas histórias. É uma experiência bem boa, que dá um quentinho no coração e uma sensação confortável e acolhedora.
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