Home Cinema Crítica | Adão Negro é, com certeza, um filme do The Rock

Crítica | Adão Negro é, com certeza, um filme do The Rock

by

Eu não quero subestimar os fãs dos filmes de Dwayne Johnson, “o The Rock”. Mas existe o que poderíamos até chamar de “meme”, hoje; um interesse muito específico do que ver num filme dele. O “filme do The Rock” já é quase um subgênero cinematográfico (como já foi o “filme do Shwarzenegger”, “filme do Van Damme” ou até o “filme do Adam Sandler”). O que gente quer: The Rock mandando frase de efeito, levantando sobrancelha, muita cena de ação e destruição, e uma trama que não precisa ser exatamente muito complexa. Diversão descompromissada. Se é isso que você quer, bom, Adão Negro vai te dar. Só, talvez, prepare uma Dipirona pra depois da sessão.

Por outro lado, se você é daqueles que quer assistir Adão Negro para conferir o que será do futuro da DC depois da crise do universo de Zack Snyder, os cancelamentos da Warner Discoveryproblema Ezra Miller e tudo mais, este filme não vai te dar exatamente resposta nenhuma. Tirando a talvez significativa cena pós-créditos (inclusive, só tem uma, no meio dos créditos — depois dela, pode sair do cinema, amigo leitor), só o que este filme mostra é que o DCEU continua existindo mais ou menos na mesma continuidade que já conhecíamos, e ponto.

Este filme, na verdade, tem uma abordagem até bastante esquisita em relação ao universo cinematográfico da DC. O Adão Negro é, classicamente, um personagem do universo do Shazam, mas o filme não faz praticamente menção alguma a ele tirando o fato de que Teth-Adam (Dwayne Johnson) precisa gritar “Shazam!” para se transformar. Por outro lado, os heróis da DC que conhecemos, como a Trindade da Liga da Justiça — Superman, Batman, Mulher-Maravilha — aparecem muito… na forma de gibis e pôsteres de suas versões em quadrinhos. Existe uma grande ênfase em dizer que “heróis são muito populares hoje”, como se fossem marcas… dentro do DCEU? Ao mesmo tempo em que a Sociedade da Justiça simplesmente existe e parece não ter importância alguma dentro daquele universo nos quais as pessoas adoram tanto super-heróis.

Eu estou aqui dando voltas sobre a abordagem do filme, sobre o Universo DC e tudo mais, e não falei ainda qual é a trama do filme, porque ela não chega a ser o ponto central da produção, de qualquer forma. Abrimos com o passado, com a nação de Kahndaq, quando era dominada por um imperador cruel que escravizava pessoas. Vemos um menino se levantando contra a tirania, e que acaba se tornando o “Shazam” e libertando seu povo. Milhares de anos depois, Kahndaq agora é novamente dominada, desta vez por uma organização criminosa do mal, a Intergangue. Uma… pesquisadora? Arqueóloga? Jornalista? Rebelde? Não fica lá muito claro, mas Adrianna (Sarah Shahi) está atrás da coroa do imperador do mal, oculta numa montanha, para tirá-la de lá e… ocultá-la em outro lugar, e impedir que o mal retorne. Quando ela é pega pelos caras maus, ela invoca o The Rock, que quebra tudo com muito estilo. Aí, Amanda Waller (Viola Davis) detecta que Thet-Adam retornou e convoca a Sociedade da Justiça para pegá-lo.

E, por boa parte do filme, é basicamente isso: “Teth-Adam é um perigo, peguem ele”. 80% do filme são cenas de ação cheias de destruição em Kahndaq (é como um enorme clímax de Homem de Aço, mas com o filtro sépia que Hollywood sempre usa para países árabes ou o México). Não dá pra dizer que é um filme “chato”. O filme ainda consegue um mínimo de nuance no meio disso tudo: A Sociedade da Justiça, neste filme, é como uma força “pacificadora” do governo americano, se metendo em questões internacionais para impedir conflitos, mas passa o filme todo ouvindo que Kahndaq “não é o país deles”, enquanto eles tentam deter o herói que o povo apoia. Então, há (temos que admitir) uma fagulha de comentário social ali, sobre como os EUA insistem em ser a “polícia do mundo”. É alguma coisa.

Porém, o texto do filme é extremamente declaratório e, como tudo é muito superficial, a questão não vai muito além do “o povo está sendo oprimido, precisamos de um herói!”, o que causa um dos debates mais repetidos ao longo da produção, que é o Gavião Negro (Aldis Hodge) dizer que o Adão Negro “não é um herói”, no que ele responde “eu não sou um herói”, ao longo de umas duas horas. A DC, no cinema, gosta muito de criar “não-heróis”, é impressionante.

Além disso, como o filme foi projetado para ser quase uma só cena de ação ininterrupta, os personagens não têm tempo de respirar. A Sociedade da Justiça, como já disse, simplesmente existe. Os personagens aparecem, explicam seus poderes e partem pra luta. O que, veja bem, a essa altura, com essa era dos super-heróis no cinema já plenamente estabelecida, pode até ser visto como uma decisão inteligente. Heróis existem, nós sabemos disso, não precisamos de “filme de origem” (tudo bem que isso funciona melhor com um Batman que com o Esmaga-Átomo…). O problema acontece quando precisamos ficar comovidos com momentos dramáticos, com personagens chorando por seus “amigos”, sendo que mal conhecemos aquelas pessoas direito. Os atores fazem o que podem: Pierce Brosnan confere certa autoridade ao seu Senhor Destino, Aldis Hodge é extremamente estiloso como Gavião Negro, mas eles têm muito pouco para trabalhar.

Talvez isso nem importe. Talvez só o que você queira seja o The Rock num uniforme de super-herói (sem enchimentos, porque o homem já é bizarramente forte) soltando raio pelo olho e frase de efeito. Isso, tem. Tem muito. Se esse é o caminho para o futuro da DC, não sei. Pode dar certo. Transformers teve uns cinco filmes, não teve? Então, taí. Adão Negro é diversão descompromissada muito bem feita, com efeitos especiais eficientes e cenas de ação de impacto, um filme feito inteiramente de terceiros atos, só o filézinho, só o que importa: porrada e destruição.

The post Crítica | Adão Negro é, com certeza, um filme do The Rock appeared first on Geek Here.

Related Articles

Leave a Comment