Uma das grandes certezas do mundo dos videogames é a seguinte: se tem o selo Devolver, de alguma maneira você vai se surpreender. Cult of the Lamb não foge do rebanho e entrega um misto de jogo de ação isométrico e procedural (até certo ponto), elementos de RPG, gerenciamento de cidade e a chance de criar um culto e adorar um deus pagão que provavelmente não quer o seu bem.
Senhor das almas desgarradas
No papel de uma ovelhinha prestes a ser sacrificada, o jogador é salvo por uma entidade maior, que concede uma segunda vida ao pobre bichinho, desde que ele seja o pastor do seu rebanho. Voltando à vida, sua missão é destruir os demais deuses e estabelecer um culto de adoração ao seu salvador, o que não parece ser uma tarefa fácil (apesar de ser bem divertida).
A bagunça é generalizada aqui. Tudo muito alucinado, um monte de coisa que parece errado, você sabe que é errado, mas precisa fazer porque bem, é um jogo e é o seu papel ser esse lobo em pele de cordeiro.
À princípio simples, já que lutar e passar as fases do game é extremamente fácil (recomendo dificuldades maiores para o combate), Cult of the Lamb adquire novas proporções ao expandir seu leque de jogabilidade ao apresentar todo o conceito de criação e adoração do seu próprio culto.
Stardew Valley do capeta
Criar um culto parece fácil, mas não é. Procurar por seguidores fiéis, que acreditam piamente no que é dito em seus sermões é uma tarefa complicadíssima. Sempre tem alguém que duvida, ou suspeita de outro membro do culto, e assim a fofoca vai crescendo e se espalhando como uma praga dentro da sua legião de adoradores.
Como o pastor do rebanho, é o seu dever saber exatamente o que seu seguidor deseja, dar-lhe boas condições de vida, um trabalho honesto e por que não, uma morte indolor caso haja a necessidade de alguém ser sacrificado pelo bem maior da comunidade.
As opções são muitas, e aqui a gente acaba passando a maior parte do nosso tempo dentro do jogo. Da personalização completa do seu fiel, seja na fisionomia ou vestimenta, tudo pode ser mexido. As questões de personalidade ficam à mercê da sorte. É um lance divertido gerenciar toda uma população cheia de vontades diferentes e particularidades específicas.
Você como líder tem a obrigação de saber exatamente o que seu súdito quer. Aí entram poderes como leitura de mentes e manipulação com sermões, estes sendo realizados apenas uma vez por dia, dentro do horário do game.
Sermões e rituais são essenciais para a sua evolução como personagem dentro do jogo. São eles que lhe concedem novas habilidades para explorar os mapas de combate em tempo real que existem para complementar a aventura.
Dois jogos em um
Gerenciar o acampamento é só uma parte do trabalho. Enfrentar inimigos, procurar por alimentos, ossos de adversários derrotados e até mesmo recrutar novos aliados fazem parte do combate mais chamativo do game.
Aqui as coisas funcionam meio como em The Legend of Zelda (os clássicos), com um combate simples, mas eficiente. Armas são dispostas no início de cada mapa de forma aleatória, e aos poucos vamos mudando a nossa sorte (via acampamento do culto) para garantirmos alguma arma especial.
Dentro de cada mapa existem uma série de perks para facilitar a sua vida, mas que valem apenas para aquela jornada, não são acumulativos para outros mapas. O formato procedural (cada aventura é uma aventura diferente) permanece nos jogos indies, o que agrada uns, mas desagrada outros também (eu, por exemplo).
Apesar de tudo, não são perks que mudam drasticamente a ação como acontece em Rogue Legacy, por exemplo. Dá para dizer que eles ajudam mais do que atrapalham.
Evoluindo seu culto
Voltando para a parte de adoração, juntar a fé dos seus fiéis é essencial para que seu acampamento prospere. Juntar fé destrava novas construções, como celeiros, canteiros de plantação, covas (sim, covas), e alojamentos.
O relacionamento social também precisa ser levado bastante em consideração. De vez em quando seremos colocados frente à frente com escolhas como “você aceitaria um grupo de pessoas doentes que estão dispostas a tudo para sobreviverem?”. É preciso saber que, receber pessoas doentes no seu acampamento pode acarretar uma epidemia e a morte de todos os fiéis. Mas é possível curá-los, então…
Além disso, questões de alimentação e higiene também são levadas a sério no jogo. Alimentar seus seguidores com boas refeições (e não sopa de mato) ajuda na moral de cada um dentro do grupo, assim como limpar o cocôzinho de cada um deles depois das refeições. Um acampamento sujo pode gerar uma rebelião que você não faz ideia.
Cult of the Lamb tem um pouco de tudo. E com certeza não será estranho a você que gosta de se aventurar pelo terreno indie. O que pega aqui é o tema da aventura, de uma bizarrice sem tamanho. Uma alegria de ver, com personagens fofinhos, adoração ao capeta (ou seja lá o que ele for), diversão garantida, como sempre, né dona Devolver?
■ Jogo: Cult of the Lamb ■ Publicação: Devolver ■ Desenvolvedora: Massive Monster
■ Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Series X / S, PC, Nintendo Switch ■ Lançamento: 11/08/2022
The post Crítica | Adore seu próprio deus pagão em Cult of the Lamb appeared first on Geek Here.