O grande trunfo de Cavaleiro da Lua continua sendo o acerto de escalar Oscar Isaac e Ethan Hawke nos papéis principais. Ter dois ótimos atores contracenando ajuda bastante quando temos que passar pela enrolação que esses seriados costumam inevitavelmente empregar em algum momento.
Pare pra imaginar, por um instante, se Cavaleiro da Lua fosse um filme. Todo o primeiro episódio, por exemplo, seria cerca de 10 minutos de apresentação de personagem. Este segundo nos apresenta o vilão e sua motivação, isso já seria o meio do filme (no máximo). Mas já tivemos duas horas de seriado, e não chegamos a quase lugar nenhum. E não é como se fosse estritamente necessário contar essa história em forma seriada — não é uma narrativa episódica, em que cada capítulo tem começo, meio e fim; e não é uma história supercomplexa, cheia de diferentes núcleos interligados que precisassem de espaço para respirar. É tudo razoavelmente simples e direto, mas a Marvel não parece acreditar que Oscar Isaac e o Cavaleiro da Lua sustentariam um lançamento nos cinemas, então vamos de “evento em seis episódios” para o streaming.
No segundo episódio, Steven Grant acorda em casa depois de deixar com que Marc Spector tomasse seu lugar e vencesse os monstros no uniforme de Cavaleiro da Lua. Ele é demitido de seu emprego e começa a investigar seu passado — descobre um contêiner com seus pertences dos tempos de mercenário e o escaravelho dourado misterioso. Também descobre que Marc Spector era casado e estava se divorciando. Logo depois, agentes o levam para o vilão, Arthur Harrow, que explica que ele era o avatar de Khonshu anteriormente, mas agora é devoto de Ammit e quer reviver o deus (o escaravelho é uma bússola que leva à tumba de Ammit) pois Kohnshu aplicava justiça depois do crime, já Ammit quer erradicar todo o mal antes que ele aconteça.
Foi um episódio cheio de ação, pelo menos no seu terço final. Até chegar lá, tivemos algumas ceninhas mais ou menos eficientes, principalmente quando Isaac precisa falar consigo mesmo (no caso, Steven Grant falando com Marc Spector), porque o ator segura. Mas a série ainda sofre com a dissonância entre tentar ser bobinha e leve ao mesmo tempo em que tenta fazer parecer que é um filme de terror. A cena do corredor do depósito de contêiners é daquelas que não ficou ruim, mas parece extremamente deslocada, principalmente por vir pouco depois do Steven inexplicavelmente querendo mostrar para o segurança do museu que ele é um super-herói lutando contra um monstro, só para nada disso aparecer nas câmeras e ele parecer um maluco.
Como já disse sobre o episódio 1, se o terror parece deslocado, a ideia fica um pouco mais equilibrada quando a tentativa é juntar a comédia com a ação. Depois da cena do caminhão de cupcakes, o melhor momento deste segundo episódio é a luta com o chacal mágico sendo cortada entre o ponto de vista do herói e o das pessoas de fora, já que o monstro é invisível para todos os outros, e o herói parece estar sendo arremessado pelo ar. Não era o que eu imaginava para o seriado, mas se você conseguir abraçar o Looney Tunes da coisa, é uma boa cena galhofa.
Esta cena também envolve a estreia do Sr. da Lua, que, como já aconteceu com o Cavaleiro da Lua em si, é uma completa deturpação da ideia original dessa persona. Dentro do conceito da série, em que tudo é literalizado, não deixa de ser uma boa adaptação: se o traje do Cavaleiro da Lua é mágico, esse “uniforme” do terno e máscara simples não seriam realmente costurados por Steven Grant, teriam que surgir como uma espécie de “poder” — logo, o “Cavaleiro da Lua” é a manifestação de Khonshu quando o mercenário Marc Spector está no controle, com sua personalidade mais agressiva e pragmática; e o “Sr. da Lua” é a maneira de Steven Grant, o lado mais frágil dele, se defender sem apelar para a violência de sua contraparte. Não é ruim, e faz bastante sentido no seriado, mas é uma complicação do conceito original, que não passava de uma roupa diferente do herói quando ele queria trabalhar junto à polícia sem sofrer com a fama do vigilante noturno violento (e, de qualquer forma, visualmente, prefiro o design que eles criaram pro Sr. da Lua que o uniforme padrão do personagem).
A série continua capengando um pouco quando precisa usar efeitos especiais — os monstros continuam horrorosos, tanto que a cena funciona bem melhor quando eles não aparecem — e alguns outros aspectos técnicos também atrapalham aqui e ali, principalmente a voz de Khonshu, que devia parecer muito mais etérea, mas só fica parecendo que foi gravada com um microfone diferente. Por outro lado, aqui e ali, a direção usa enquadramentos razoavelmente criativos e tendo alguns lapsos de brio artístico, mesmo que a metáfora sempre seja 100% óbvia, como mais uma tomada de espelho, mas desta vez, um espelho quebrado, simbolizando a mente fraturada do personagem. Mesmo assim, a série às vezes se embanana nas metáforas e acaba dizendo coisas que não estão acontecendo de fato: uma das primeiras coisas que acontecem neste episódio 2 é uma tomada criada especificamente para mostrar o personagem de Oscar Isaac deixando seu crachá escrito “Steven Grant” na mesa do chefe, ou seja, simbolicamente, a série sinaliza que ele está deixando essa persona para trás… só para ele continuar ativo e, de certa forma, ainda mais forte ao fim do episódio, já que conseguiu uma persona de herói para si e continua dentro da mente de Marc Spector, como uma voz da consciência dele.
O que me deixa ainda mais preocupado ao pensar que um tema foi introduzido na segunda parte deste “evento”, o tema da justiça — mais especificamente, a ideia da justiça preventiva vs. justiça punitiva. A série ainda não disse nada sobre isso, além de apresentar a ideologia do vilão (acabar com o mal antes que ele aconteça) como o lado errado, mas eu fico me perguntando, na verdade, se esse tema de fato será debatido. Existem diversas maneiras de discutir a questão, mas com a falta de tato e apuro artístico da série até agora, não sei se a produção vai chegar a de fato falar do assunto além do básico e, se o fizer, se não vai ser apenas vergonhoso.
Por enquanto, o que fica é um seriado sem energia e que parece estar esticando o máximo que for possível o pouco que tem a dizer e mostrar. Oscar Isaac faz o que pode, e Ethan Hawke é um ótimo parceiro de cena para ele, mas ainda falta um tanto para a produção justificar sua existência.
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