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Crítica | Cavaleiro da Lua ep. 06: Nem deuses gigantes salvam um seriado pequeno

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O Cavaleiro da Lua sempre foi um personagem à margem do Universo Marvel. A proposta do personagem, e o fato de que já existem personagens “maiores” e mais relevantes que ele na Casa das Ideias, faz com que ele seja usado, costumeiramente, em histórias mais alternativas, até dando a chance de autores experimentarem com suas tramas e escolhas estéticas. O seriado Cavaleiro da Lua meio que provou isso: quando ele tentou ser mais “esquisito”, trabalhar com a ambiguidade, experimentar caminhos inusitados, nos episódios 4 e 5, a história brilhou.

Por isso, é uma pena que o final da série tenha sido tão formulaico e básico, e simplesmente ignorasse tudo que de fato havia funcionado.

Depois de viajarmos entre o mundo dos mortos e uma série de alucinações e/ou ilusões dentro de um hospício, usados para nos transportar para o passado de Marc/Steven e entender como esses transtornos psicológicos moldaram sua vida e culminaram no Cavaleiro da Lua, a série deixa de lado toda a “doideira” e faz um final de filme de herói médio, um Esquadrão Suicida (do David Ayer!!) com menos personagens: só uma sequência de lutas, com direito a uma nova heroína e uma briga de kaijus divinos. Mas nem isso deu jeito.

Não que não tenha nada de legal: aquelas lutas na cidade, em que o Cavaleiro da Lua e a Layla batem numa sequência de capangas de Arthur Harrow nas ruas do Cairo, não são ruins — mesmo que pareçam lutas de meio de seriado, não o clímax da história. Além disso, a própria transformação da Layla em avatar (temporário) da deusa Tuéris talvez tenha sido o ponto alto do episódio, já que o uniforme e o, digamos, estilo de luta, ficaram muito bem feitos. Até o fato de ela ser uma “super-heroína egípcia” é uma grata surpresa. Mas para por aí.

Porque foi no mínimo constrangedor ver Ethan Hawke lutando contra o Cavaleiro da Lua. O personagem nunca foi isso, por que colocá-lo numa luta, física mesmo, contra o herói? Não havia nenhuma outra solução mais criativa? Por que pegar o líder de culto manipulador e fazer dele o “boss final” de uma luta mal coreografada cheia de cortes muito óbvios para o dublê do ator?

Mais constrangedor ainda foi a briga dos deuses gigantes que tomou boa parte da metade final do episódio. É complicado, porque já tivemos a deusa Tuéris, a hipopótamo de voz doce dos episódios anteriores, e não foi grande problema, porque estava muito falso, mas era num contexto de quase nonsense; eram cenas que ou flertavam com a comédia, ou eram 100% cômicas. Mas desde a aparição de Ammit até a luta dos deuses gigantes, tudo que envolvia aquele jacaré de computação gráfica era um tanto vergonhoso, principalmente porque estas cenas precisam ser levadas a sério. E depois disso, segue-se uma briga de bonecos de CGI sem peso nem físico nem dramático, que o máximo que consegue ser é um plano de fundo interessante no horizonte enquanto os personagens que conhecemos brigam em primeiro plano.

É frustrante, porque não seria necessário nada dessa “pataquada” se o seriado tivesse escolhido ficar pequeno de propósito. Um cara com problemas psicológicos combatendo o crime nas ruas da cidade com um uniforme que ele mesmo criou, não é complicado — mas a Disney+ decidiu… elevar (??) o personagem, fazer dele algo mais grandioso, porém completamente sem sucesso.

E foi sem sucesso porque ele escolheu demorar demais para efetivamente criar seus personagens, fazendo com que eles passassem mais tempo sendo mistérios que pessoas; tanto é que o grande momento (ou, pelo menos, o que o seriado queria que fosse o grande momento) do episódio final foi a revelação de que, sim, Jake Lockley existe, e agora meio que ele é o avatar de Khonshu, já que Marc/Steven pediram para serem libertos. O que, ok, é um twist interessante, mas também é algo que podia ter sido incorporado à trama, em vez de ser um twist e um gancho para uma segunda temporada ainda não anunciada.

É até curioso ver que o seriado não tentou se agarrar a algum gancho para o resto do Marvel Cinematic Universe — seria de se esperar que um seriado que não tem mais nada a oferecer, mandasse uma Manora Morbius e tentasse ser relevante como “uma peça” no quebra-cabeças do MCU. Não foi o que ele fez, e, veja só, até bato palmas por isso.

Mesmo assim, no fim, o saldo final é de potencial desperdiçado. O personagem permitia muito mais experimentação do que tentaram. Tivemos dois episódios interessantes para quatro completamente sem sem graça. Não é um grande desperdício do personagem porque nunca foi um personagem lá muito importante (eu sou fã dele e tenho lugar de fala aqui), mas é, no mínimo, um desperdício do Oscar Isaac em mais uma produção meia-boca de super-heróis.

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