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Crítica | Cotton Fantasy: a bruxa tá solta (de novo) 30 anos depois

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Nos idos de 2010, a indústria dos videogames entrou numa piração de remasters e remakes de jogos que não parou mais. Acho uma prática válida, principalmente quando aplicada em títulos de um passado cada vez mais distante, inacessíveis por meios legais ou esquecidos no tempo.

Dito isso, Cotton Reboot! (2021) resgatou e repaginou um jogo de 30 anos, botando a franquia de volta no radar. E Cotton Fantasy vai mais longe, carregado com mais conteúdo, certa ousadia dentro da fórmula, além de ser um capítulo inédito na série.

Entre o céu e o bullet hell

Neste simpático shmup (abreviação de shoot ’em up) ou “jogo de navinha” lateral se preferir… se bem que você controla uma bruxa numa vassoura e o visual é absurdamente colorido, fofinho e cheio de inimigos bizarros, elementos que o inclui no subgênero cute ’em up. OK, não vou confundir sua cabeça, então só fica no navinha que tá tudo bem.

Personagens bonitinhas e cenas engraçadas foram um dos diferenciais de Cotton em relação a outros shoot ’em ups no passado

Cotton Fantasy traz uma jogabilidade mais refinada que a do Reboot!, com uma pegada moderna, fácil de entender e de dominar, mas com um desafio que se molda ao que o jogador busca. Quer só se divertir e destruir coisas sem sofrer? Pode. Quer um desafio moderado para testar seus reflexos? Pode também. Você é do tipo que curte um bullet hell (quando a tela lota de tiros e você precisa desviar na precisão cirúrgica), fazer combos e pontuações gigantescas? Bem-vindo!

O que é cenário? O que é tiro? Do que você deve desviar aqui? Tem horas que é um pouco confuso

Na verdade a dificuldade do jogo em si é um detalhe que eleva o ritmo da brincadeira, mas o jeito de jogar continua o mesmo. Os continues são infinitos e você sempre prossegue de onde morreu. Agora, se quiser ficar bom, precisa ser intocável (tomou 1 hit, morreu) e ao mesmo e manter a frequência de destruição para o contador de combo ficar alto (o máximo é x99), além de pegar itens deixados para elevar ainda mais sua pontuação.

Nas fases de profundidade é só pegar copos de chá

Sempre que morrer, o contador de combo é reduzido, mas pode ser recuperado. Mas se usar Continue, sua pontuação é zerada! E shmups são basicamente sobre fazer a maior pontuação possível. Tudo para entrar no lugar mais alto do ranking online. Um recurso bobo nos tempos de hoje? Talvez. Ainda tem gente (eu incluso) que adora esse detalhe dos arcades, da coisa de deixar iniciais no placar. Há todo um mundo competitivo por trás disso.

Entre camadas

Por ser um jogo na pegada arcade, mas sem o lado “arranca ficha/frustração”, Cotton Fantasy é gostoso jogar. Além da bruxinha Cotton, há mais seis personagens: Tacoot fica disponível após terminar o jogo uma vez e duas outras (Luffee e Umihara Kawase) são convidadas, oriundas do RPG Doki Doki Poyacchio (1998).

Personagens bonitinhas, mecânicas diferenciadas e tipos de tiro dão um toque mais estratégico

A mecânica de jogo muda drasticamente entre as personagens, o que torna cada uma única, seja no jeito de atirar, na capacidade e na forma do tiro, no ritmo, na cadência e até na movimentação. Isso implica no tipo de desafio básico, já que há personagens com maior e outros com menor capacidade de ataque. Cotton, por exemplo, pode mudar ou aumentar a forma do tiro ao pegar e acumular cristais de diferentes cores, tendo a fada Silk de suporte junto com outras aliadas.

Há todo um toque estratégico em como lidar com os cristais que podem mudar de cor ao serem alvejados (ou outros elementos, dependendo da personagem) e no acúmulo dos mesmos para melhorias, o que facilita drasticamente o combate contra os chefes já que uma cadência ultra poderosa e constante acelera sua vitória. É um espetáculo essa sacada.

Bruxa, tecnologia, fadas, armas laseres, nasves e robôs… só aceita e se divirte, que é bom!

Cada personagem tem um poder de ataque, forma, velocidade e especiais. Algumas deles possuem habilidades extremamente únicas que envolvem alto risco, mas tem como recompensa um poder de destruição absurdo — Luffee tem um super tiro laser que pode ser concentrado, Kawaze tem o ataque de bazooka, Appli agarra e arremesa inimigos para criar uma onda de destruição que limpa o cenário!, Cotton pode soltar três tipos de bombas elementais e por aí vai.

Cada personagem tem mecânicas de tiro que demandam um aprendizado para maior eficiência

Além disso, o jogo conta com o sistema Buzz, emprestado do jogo Psyvariar (2000): há uma barrinha de XP sob o placar de pontos. Dependendo da personagem, essa barra é preenchida conforme matar inimigos e desviar de projéteis por um triz. Quando a barra é preencida ou sobe de nível, a personagem pode ficar invencível por uma fração de segundo ou ter um poder destrutivo temporário.

Em dificuldades mais altas, há um Time Attack emprestado Savein (2000): seu tempo diminui rápido a cada vez que você for atingido e é preciso pegar relógio pela fase. São incentivoso interessantes para sacar nuances das mecânicas e explorar a personagem que melhor se adequa ao seu estilo de jogo.

Fantástico e alucinante… até demais

O jogo traz um valor replay altíssimo e é sempre satisfatório terminá-lo, pois bate aquela sensação de “eu posso fazer melhor” e começar de novo. O lado bom é que são apenas seis fases para concluir a aventura. Seu desempenho com cada personagem é premiado com perfumarias estéticas, além de abrir algumas fases extras no mapa geral.

Quanto mais jogar, mais vai querer se superar

No total são 16 fases (algumas são repaginadas de outros jogos da franquia), então sempre vale a pena jogar de novo e escolher novos caminhos — cada fase traz seu próprio nível de dificuldade, com progressão lateral, vertical e em profundidade, algumas são curtas e intensas, outras mais longas e moderadas.

Se por um lado a explosão de cores deixa tudo bonito e alucinante, o caos visual com tiros, explosões, efeitos, números e tudo mais não seria um problema se a hit box da personagem ficasse visível e sinalizada o tempo todo. Vale observar: no Reboot!, o visual é mais puxado para o “pixel art” e na cintura da personagem a hit box fica piscando, lembrando-o constantemente de que aquele é o único lugar que não deve ser atingido — qualquer outra parte do corpo não tem problema.

Em Cotton Fantasy, o visual é totalmente 3D e a hit box não é sinalizado. Jogadores calejados nos navinha da vida, por hábito, sempre vão focar nesse detalhe. Mas aqui, dependendo da dificuldade, há toda uma convulsão de cores e coisas na tela que o visual 3D confunde cenário de fundo e primeiro plano, levando à falsa sensação de que a personagem não pode ser atingida quando tenta se desviar de coisas do cenário de fundo se destacando com o resto.

Cada fase lateral tem seu chefe e cada um com um estilo e ritmo de combate próprio bem interessante

Você é inuzido ao erro até aprender a lutar contra a vontade de proteger a personagem e lembrar da hit box. Sim, faltou uma atenção maior no polimento dos detalhes visuais, principalmente no uso da fonte e da escrita no nome das fases. Sério, aquilo é ilegível.

Show de tiro onírico

Cotton Fantasy traz a essência do clássico dos arcades com várias camadas de apreciação, uma jogabilidade excelente, trilha sonora remasterizada com uma pegada mais eletrônica e boa sensação de poder e destruição. Só peca mesmo pela hit box não ser sinalizada em meio ao caos visual.

Se quiser desafio, nesse Time Attack o seu tempo diminui mais rápido quando você é atingido

Com tantas personagens e variações de mecânicas, também faltou a história ter, pelo menos, cenas e segmentos diferentes para cada — é tudo pela visão da protagonista e isso meio que cansa rápido. Mas, no geral, é uma excelente e divertida porta de entrada para novatos e curiosos ao gênero, mas também é um prato cheio para os veteranos.

■ Jogo: Cotton Fantasy   ■ Publicação: ININ Games   ■ Desenvolvedora: Studio SaiZenSen
■ Plataformas: Switch, PS4   ■ Lançamento: 16/03/2022

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