O que vem à sua mente quando você pensa em Jurassic Park? Certamente não é a cena em que o núcleo humano discute como os dinossauros foram trazidos de volta à vida ou o passeio no parque conduzido por John Hammond (Richard Attenborough), mas sim a tomada com o braquiossauro ao som do tema composto por John Williams ou a do tiranossauro rex correndo atrás de um jipe cheio de pessoas dentro. A trilogia Jurassic World parece saber disso, adicionando muito mais ação não só com os dinossauros, mas também com os humanos, que fazem muito mais do que só fugir.
Jurassic World: Domínio é o ápice dessa ação. Usando crítica ambiental como pano de fundo, o novo filme da franquia parece ser uma cruza entre os clássicos filmes de kaiju e a cinessérie Missão: Impossível, com direito a perseguições motorizadas em uma grande cidade, uma volta ao mundo para impedir uma grande conspiração e duelos entre dinossauros enormes. O resultado é um filme um tanto convoluto, mas divertido de se assistir.
Equilíbrio frágil
Ambientado alguns anos depois de Jurassic World: Reino Ameaçado, a humanidade agora tenta encontrar uma maneira de conviver em harmonia com os dinossauros que eles mesmos reviveram e agora desequilibraram o ecossistema do planeta. Enquanto isso, Owen Grady (Chris Pratt) e Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) fazem o que podem para esconder Maisie Lockwood (Isabella Sermon) do resto do mundo por ela ser um clone – algo estabelecido no segundo filme e difícil de falar aqui ser dar spoilers de ambos -.
Enquanto isso, um grande conglomerado científico, sob a desculpa de preservar a vida dos dinos, começa a se movimentar para ter hegemonia usando a velha tática de “criar a doença para vender a cura”, sendo a jovem Maisie uma peça central para isso. E é aí que os elencos de Jurassic Park e Jurassic World começam a se alinhar: o primeiro quer desvendar a conspiração de dominação mundial para salvar o já frágil ecossistema da Terra, e o segundo quer simplesmente salvar sua filha. E nisso, o filme tenta equilibrar a trama de infiltração e investigação com a ação ininterrupta, mas assim como rola dentro do filme, fora dele esse equilíbrio também é bastante frágil.
É claro que é muito bom ver Sam Neil, Jeff Goldblum e Laura Dern de volta respectivamente como Alan Grant, Ian Malcolm e Ellie Sattler, ainda mais quando a trama deles respeita o legado deixado pelo filme original e os trata com a mesma importância que os novos heróis da franquia. Ao contrário de Star Wars, que não reuniu seu trio clássico uma única vez na nova trilogia, aqui eles voltam a arriscar a pele tanto usando a cabeça para ligar os pontos e se infiltrar no laboratório quanto os músculos ao lidar com os gafanhotos gigantes – que são uma peça chave da trama – e os mortais dinos, que como eles mesmos constatam na tela, só ficam cada vez maiores. A participação deles não é desperdiçada nenhuma vez.
Encontro de gerações acontece nesse terceiro filme e é legal de se assistir, mas com ressalvas
Já do lado do novo elenco, o que impera mesmo é a ação desenfreada, com caçada a figuras importantes do submundo, perseguição de moto contra dinos assassinos, batalha aérea com pterodátilos furiosos e por aí vai. Owen Grady está na tela? Lá vem tiro, porrada e bomba. É divertido de assistir, lógico, mas fica aquela sensação de que o filme não sabe o que quer ser por não conseguir mesclar bem esses dois elementos, como duas peças de quebra-cabeças diferentes que não se encaixam direito. Se você desligar um pouquinho a cabeça e simplesmente quiser ver dinossauros correndo atrás de gente (e de outros dinossauros), vai adorar. Se quiser uma experiência mais densa e que se leve mais a sério podendo fazer isso… nem tanto.
O fim de uma era… ou de duas
Domínio tem a missão de encerrar as tramas tanto de Jurassic Park quanto de Jurassic World e até consegue realizá-la, mas não sem seus asteriscos. Além do elenco principal de ambos, o filme também apresenta a piloto de avião Kayla Watts (DeWanda Wise) e o ativista espião Ramsay Cole (Mamoudou Ahtie) de uma forma, ao meu ver, um tanto apressada. Nenhum dos dois tem suas motivações claras além do “faça a coisa certa”, devemos simplesmente acreditar que eles estão fazendo o que fazem porque o filme diz assim. Eles tem bons momentos na tela, mas ainda soam como personagens um tanto artificiais pela falta de uma personalidade melhor trabalhada.
É diferente do que acontece com o dr. Henry Wu (BD Wong), um personagem que está por perto desde o filme original de 1993 e justamente por isso não precisa justificar suas ações para convencer. Ele é um cientista, ele trouxe os dinossauros de volta, ele tem a tecnologia, ele está arrependido e é isso. Tirando essa última parte, ele sempre foi tudo isso, não tem o que inventar. É natural que, depois de 30 anos, ele queira pôr um ponto final nisso tudo, e para o público já está bom.
Um dos problemas do filme, ainda mais por ser o último (até anunciarem outro, é claro), é que o roteiro claramente continua sem saber o que fazer com Maisie e a justificativa apresentada soa mais como uma desculpa inventada em cima da hora para justificar a presença dela lá. Por ser um clone, o DNA da garota é essencial para impedir que os gafanhotos turbinados continuem devorando as plantações, e termos técnicos complicados de ciência à parte, nada disso convence. Ela é um pouco mais que uma donzela em perigo e bem menos que uma personagem memorável.
Independente dos problemas, o filme acerta na crítica à ganância humana quando mostra pessoas comercializando ilegalmente dinossauros ou os usando para lucrar com rinhas, mercado negro de órgãos ou coisa pior, o que meio que é o que realmente aconteceria se tudo fosse verdade. Em um mundo povoado por criaturas cheias de garras, dentes afiados e movidos puramente por instinto, nós seríamos os verdadeiros monstros.
Crítica social f*da à parte, Jurassic World Domínio tem seus problemas, assim como quase todos os outros, mas da mesma maneira que eles, diverte na medida certa e dá ao público o que ele realmente quer ver: dinossauro comendo gente e destruindo tudo. Vai dizer que não é verdade?
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