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Crítica | Ms. Marvel ep. 03: Mais complicado do que precisa

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Ms. Marvel continua um seriado muito agradável, muito por conta do bom elenco (em partes) e de tudo que envolve o núcleo familiar e cultural da sua protagonista, mas este episódio 3 já começa a mostrar algumas rachaduras no que parecia ser uma produção bastante sólida.

Neste episódio 3, pegamos do momento em que o episódio anterior parou, ou seja, no carro com a mãe de Kamran e o próprio garoto, “salvando” Kamala do incidente do garoto que ela mesma tentou salvar. É assim que chegamos ao momento de diálogo expositivo que a série estava precisando, mas que ficou um tanto sem graça e bem mais complicado do que deveria. Ficamos sabendo que a Kamala é descendente de Djinns (é, isso mesmo) — sua bisavó veio de outra dimensão, a “dimensão Noor”, e que fazia parte de um grupo exilado de sua dimensão para a “nossa”, e o bracelete da Ms. Marvel é parte de um par, que dá à Kamala acesso ao poder da “luz” (“Noor”), mas também são necessários para que os Djinns voltem à sua dimensão.

Muita coisa, né? Pois é. É o maior problema deste episódio. Não só tudo isso é muito mais convoluto do que o necessário para este seriado — e para a personagem —, como deixou a produção bem menos dinâmica do que seus primeiros dois episódios. Não ajuda o fato de que, neste, toda a inventividade visual dos primeiros episódios ficou de lado. Tivemos talvez um momento em que a série utilizou dos grafismos que usava antes (uma conversa por mensagem ilustrada na parede do quarto da Kamala, muito brevemente), e de resto foi a estética Marvel de sempre.

Além disso, temos a questão da mudança da origem dos poderes da Ms. Marvel. Como dito no episódio passado, o poder “vem de dentro dela”, já que ela é a descendente desse povo interdimensional. Além disso, o poder é uma herança de família — apesar de vir da bisavó infame dentro da família, ainda é família, e faz parte de sua cultura, mesmo que de outra dimensão. Não sei se eu sou o melhor para julgar isso, mas acho que isso muda bastante a ideia da personagem, já que ela não tem mais que entender que não precisa ser outra pessoa (por mais que ela tivesse o gene inumano, seus poderes ainda eram algo “externo”, principalmente a nível cultural), mas sim abraçar sua própria herança. Aqui, tudo fica, por mais contraditório que pareça, ao mesmo tempo mais complicado e mais simplificado. Também não ajuda o fato de que esse núcleo Djinn estar um pouco canastrão no geral. O flashback que abre o episódio, por exemplo, ficou um tanto bobinho por culta da performance do elenco.

Por outro lado, a série está trabalhando com força a temática da família, e isso funciona bem como sempre. Quando a família da Kamala está no centro da narrativa, toda a série brilha. Este episódio contou com o casamento do irmão da heroína e um discurso muito bonito do pai, que veio logo depois de outro discurso bonito da mãe, este feito para a própria Kamala, todos enfatizando a importância tanto da comunidade quanto da família em criar um lar e um ambiente acolhedor, um lar, efetivamente. São ideias que ganham força porque esse lado da série é muito sólido: nós sentimos que aquela é uma família real, que se ama, mas tem seus problemas. Nós sentimos que a mesquita é um pilar daquela comunidade. Nós também sentimos que a amizade da Kamala com o Bruno é sincera e real.

E é por isso que momentos como o da conversa na qual a Kamala recebe o conselho de que “bom não é algo que você ‘é’, é algo que você ‘faz’”. É um conselho bonito (e um diálogo tirado direto dos quadrinhos da personagem), que bate forte porque, se há algo consistente na personagem, é que ela quer ser uma heroína, e parte muito importante de seu conflito na série agora é justamente o de que ela quer ajudar os Djinns, mas isso significaria perder a chance de ser a super-heroína que ela sempre sonhou.

Infelizmente, com isso, precisamos voltar a outro ponto fraco do seriado até aqui: Ms. Marvel é muita coisa, mas não é uma boa série de ação. Tudo bem, até que faz sentido: a Kamala não recebeu treinamento nenhum, é só uma menina que ganhou acesso a um grande poder, então fazer desta cena um John Wick adolescente seria muito esquisito. Mas o resultado é uma cena sem graça, sem energia, quase constrangedora. E, mais uma vez, o elenco de “vilões” é muito fraco, então a coisa toda fica comprometida em nível narrativo e dramático, de qualquer forma.

Ms. Marvel, de forma muito similar a Cavaleiro da Lua, curiosamente, acerta no personagem principal e no carisma, mas patina quando tenta ser uma história de “super-herói”, tanto nas cenas de ação fracas quanto na origem convoluta exposta da maneira mais enfadonha possível. O que não chega a ser o maior dos problemas aqui. Mas é um problema, num seriado que, tirando isso, é muito agradável e divertido.

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