Crítica | Ms. Marvel ep. 06: Final sólido recupera magia de Kamala Khan

Depois de muito patinar — como de costume, no meio de uma série de um seriado de streaming — Ms. Marvel se reencontrou. E esse reencontro se deu quando a nossa protagonista, Kamala Khan, se afastou das bobajadas desnecessariamente complicadas dos Clandestinos (mas já vamos voltar a falar de coisas desnecessariamente complicadas) e voltou a Jersey City, aos amigos e família e tudo que faz o seriado ser bom.

A trama dos Clandestinos, ou Djinns, tomou boa parte do seriado e nos trouxe tudo de pior que já passou pela produção. Uma trama desinteressante, vilões canastrões, novos “heróis” sem carisma ou química com a Kamala, péssimas cenas de ação, efeitos especiais dignos de seriado do CW e resoluções convenientes demais até para uma história que não se leva a sério demais. E resolver o que é, na prática, a trama principal no penúltimo episódio é bastante esquisito. Mas tudo bem. Pelo menos voltamos ao que interessa.

O episódio final de Ms. Marvel recoloca Kamala junto à família — cuja hipereficiente rede de fofocas já espalhou a notícia de que a Kamala tem poderes — mas ela precisa resgatar Kamran e Bruno, perseguidos pela Controle de Danos por conta de o primeiro, agora, ser um ser aprimorado. E talvez seja esse o aspecto mais fraco da coisa, nesse final, porque a Controle de Danos era um detalhe no meio de outras coisas, não algo central o bastante para que fosse usado para concluir toda a produção. Mas, enfim, serviu para dar aos personagens o que fazer, pelo menos, então relevemos.

E é assim que vemos nossos protagonistas (e até umas participações que eu não esperava, como a menina salva pela Kamala no primeiro episódio) se vêm cercados pela Controle de Danos e, para se proteger, eles armam um Esqueceram de Mim pra cima da agência governamental, e é simplesmente a coisa mais divertida que já aconteceu em Ms. Marvel, ainda bem. Faz sentido? Muito pouco (apesar de, no fim das contas, todos eles acabarem detidos de qualquer forma). Tem uma série de momentos esquisitos, como a garota Zoe surgindo do nada, ou o irmão da Kamala, Amir, simplesmente aparecer na escola porque “a mãe me mandou te vigiar”? Tem. Mas a sequência toda é criativa e com um ar de vivacidade juvenil que a série estava há tempos precisando.

Na verdade, considerando que todo o meio da série é bem ruim, eu ficaria extremamente feliz se Ms. Marvel fosse nesse esquema, cada episódio uma situação diferente resolvida de modo divertido, sem se levar a sério. Essa sequência, inclusive, traz de volta, de forma até bastante tímida, aquela identidade estética à la Scott Pilgrim dos primeiros episódios, quando eles debatem o plano desenhando na lousa. Podia ser bem mais que isso, mas o que tivemos, foi legal.

É até um alento Ms. Marvel não apostar numa batalha grandiosa ao estilo WandaVision para fechar a trama. Existe uma batalha, mas é algo menor e mais localizado. É uma pena que ela se sustente no conflito do Kamran, um refugo do que há de pior na série, mas eu escolho ignorar esse personagem sem graça e focar na estrela: Iman Vellani, mais uma vez, prova que talvez tenha nascido para viver a Ms. Marvel, e brilha acima de tudo que a Marvel Studios já jogou no Disney+. O carisma dela faz até os efeitos especiais esquisitos da cena do “engrandecer” não serem problema (e eles não estão nem perto do horror que foi o CGI do episódio passado, então está tudo bem).

Além disso, é sempre bom quando Ms. Marvel aposta nesse espírito de comunidade e coletivo, posicionando a heroína não apenas como alguém que bate em bandido, mas como um símbolo de algo maior. Como essa série não é The Boys (e nem deveria ser — pra isso, já tem The Boys), a violência aqui é bastante comedida, com uma agência que não é nem polícia, nem FBI nem exército atacando com armas sonoras não letais e tudo mais. Mesmo assim, ainda é uma força autoritária de um estado branco atacando duas crianças crianças muçulmanas em sua própria comunidade, e continua sendo uma imagem bastante forte — e é por isso que funciona tão bem o momento em que todo o povo que assiste o embate se coloca na frente da Controle de Danos e a protege. É como se todos estivessem protegendo a menina por saber que a Ms. Marvel é o futuro. É uma belíssima cena.

O final do episódio é um longo porém muito eficiente epílogo, que conta com a cena em que Kamala se inspira nas palavras do pai para criar seu nome de heroína (aliás, vários dos momentos mais bonitos do episódio têm o pai da Kamala maravilhado com sua pequena heroína, é muito comovente e fofinho), que também reproduz uma das falas mais clássicas das HQs — “Quando você salva uma vida, salva o mundo inteiro”, e agora, temos uma nova heroína totalmente formada, com uniforme tático costurado pela mãe e tudo.

É realmente uma pena que a série tenha sido tão inconsistente. Com um começo fortíssimo, três episódios pavorosos e aí um bom final, fica difícil recomendar a qualquer um que tire um tempo da própria vida para dedicar seis horas a algo tão irregular. Como de costume, o objetivos das produções Marvel Studios — principalmente os filmes e séries de origem — têm menos o objetivo de “contar uma boa história” e mais o de “apresentar um bom personagem”, e, como de costume, a Marvel Studios é bem-sucedida nesse fim. Como já sabemos há tempos, nossa próxima oportunidade de vê-la será em As Marvels, é quase garantido que roube a cena, seja nesse ou em qualquer crossover em que ela seja incluída. A série Ms. Marvel não é boa. Mas a heroína Ms. Marvel é ótima.

Mas agora, é hora de falar dos spoilers que todo mundo está comentando, e como são spoilers fortíssimos (!!!) continue lendo por sua própria conta e risco!!!

Último alerta de spoilers!!!

Vamos lá: Não vou comentar muito a participação especial de Carol Denvers no final. As duas parecem trocar de lugar e isso será explicado em As Marvels. Por enquanto, pouco me importa o funcionamento real disso. Esperemos.

Mas a revelação de que a Kamala é uma mutante é importante. Como já explicamos, nos quadrinhos, a Kamala só era uma inumana porque, na época, a editora não queria dar publicidade demais as mutantes (que estavam com a Fox antes da compra pela Disney) e, por isso, precisavam colocar os inumanos no centro das narrativas. Já está consideravelmente claro que os inumanos vão ser deixados de lado de novo agora que os mutantes estão com a Disney, então, do ponto de vista mercadológico, a decisão de fazer Kamala ser uma mutante “faz sentido”. Além de, claro, gerar o buzz que os estúdios tanto precisam. “Mutantes no MCU!!!” e “Kamala é mutante!!!” vai ser espalhado pelas redes sociais como um incêndio florestal e, no fim das contas, isso é mais importante do que contar uma boa história.

Mas a origem dos poderes da Ms. Marvel nesta série já era desnecessariamente complicada sem isso. Ela tinha o bracelete, que veio de outra dimensão, o que faz dela uma descendente de seres interdimensionais que pode acessar o Noor e criar luz sólida. Já era mais rocambolesco do que essa série precisa. E aí, além disso, agora ela também tem “algum tipo de mutação” no DNA. Além disso, mesmo que Kamala diga que não se importa porque “seria só mais um rótulo”, o que se conecta com os temas de repressão à sua cultura e ancestralidade, é mais do que claro que a revelação não chega para compor com o tema da narrativa, mas sim para gerar o buzz que citei acima. Não agrega nada a este seriado. Não que subtraia algo também. Faz muito pouca diferença. Mas cá estamos nós, falando disso. Logo, a Marvel venceu.

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