O quarto episódio de Mulher-Hulk foi um exercício interessante, aproveitando o potencial que esse seriado tem de ser um veículo para explorar as consequências de um mundo cheio de super-heróis, superpoderes e super… coisas à disposição de pessoas. Mas também é um daqueles casos em que uma coisa muito legal evidencia uma coisa muito ruim no processo.
Este capítulo foi exatamente o que eu dizia que a série deveria ser, alguns textos atrás: um caso por episódio, toda semana explorando algo diferente. Desta vez, foi um mágico que chegou a ser aluno do Kamar Taj mas agora usa o anel de teleporte para truques de mágica nos seus shows que ninguém gosta — a consequência é que pessoas acabam sendo mandadas para dimensões misteriosas e isso é um perigo.
Entra, mais uma vez, Wong — e, sim, Jen, o Wong é garantia de um bom episódio, pelo menos até aqui. E, ok, essa é a série, é uma advogada resolvendo casos judiciais relacionados a superpoderes, mas esse é o tipo de coisa que, se fosse num filme do UCM, seria resolvido em cenas de ação e muita porrada (como acaba sendo resolvido no fim, aliás — aquela intimidação no final não tem nenhuma força legal).
Então, vamos ao óbvio: Madisynn (Patty Guggenheim) é, de longe, a melhor parte do episódio. Não, a melhor parte da série, até o momento. Aliás, não é exatamente isso: o mais legal aqui foi ver o desenvolvimento da amizade entre ela e Wong. Foram as melhores piadas da série até aqui, principalmente considerando que a mulher fez um pacto com um demônio, que é o tipo de coisa que Mulher-Hulk precisa um pouco, sabe? Coisas idiotas e absurdas que não precisam de muita consequência (…quer dizer, até a Marvel meter um Agatha Harkness e anunciar o spin-off Hell Shore: Madisynn no Inferno e acabar com a graça da coisa). Inclusive: estou fortemente shippando o casal e quero tudo de bom para eles.
O grande problema que a Madisynn evidenciou para mim com a sua aparição é que ela acabou clicando em mim uma percepção: talvez a pior parte de Mulher-Hulk seja a Mulher-Hulk. Veja bem, eu entendo que o processo da personagem parece ser um processo de abertura e aceitação das próprias condições — o que parecia ter sido concluído semana passada, mas eis que ela está em conflito mais uma vez nesta, e não quer encontros como a “Mulher-Hulk”, e sim como “Jennifer Walters”. Mas até chegarmos lá, a personagem composta pelo roteiro da série é o arquétipo da “chata quadrada que só pensa em trabalho”.
Tatiana Maslany faz o que pode, mas é inegável que a personagem é usada como o “straight man” das piadas, enquanto as “punchlines” são todos os outros. Ela parecia mais divertida no episódio 1, quando Bruce Banner era o personagem sério — agora, todos os outros à volta dela fazem as piadas, enquanto ela reage como a pessoa séria que só quer fazer seu trabalho. Blonsky, Wong, sua amiga e assistente Nikki, e agora Madisynn, todos esses são personagens que fazem as piadas em vez da própria Jen. É por isso, por exemplo, que a cena do episódio passado, do julgamento do advogado babaca, é tão boa: porque é a própria Jen que entrega a piada, em vez de reagir a ela.
O que deixa ainda mais triste a quebra de quarta parede. Porque, até agora, ela não foi usada pra quase nada de realmente interessante. São uns dois comentários metalinguísticos por episódio que não nos ajudam a entender melhor a personagem, não são piadas realmente engraçadas e mal parecem fazer parte do formato da série. Sei que é referência à fase de John Byrne nos quadrinhos, mas lá, brincar com a arte das HQs, saltar de um quadro para o outro, falar com o leitor, aquilo era a série, e não só uma coisinha que às vezes acontecia.
De qualquer forma, o episódio não foi ruim (graças à Madisynn e ao Wong, foi até bem divertido), e o cliffhanger para a semana que vem é muito interessante em conceito. Com sorte, teremos um texto inteligente e engraçado que use melhor a metalinguagem e o ambiente do tribunal… mas eu não teria tanta esperança.
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