O episódio desta semana de Mulher-Hulk foi um dos melhores em tempos recentes. Tá certo que a virada no final era mais do que óbvia, mas, fazendo um esforcinho e tentando focar no momento — o que é, ora vejam só, a lição do episódio, talvez? já chegamos lá — até que foi divertido passar um tempinho com alguns personagens esdrúxulos da Marvel.
O seriado da Mulher-Hulk tem seus problemas, veja bem. Um dos problemas que este episódio melhor representa é a mudança completa do status quo do Universo Cinematográfico da Marvel, que eu já comentei aqui nas críticas anteriormente: antes, a presença de pessoas com superpoderes era algo especial e localizado e estranho, agora é algo comum com o qual o mundo já está acostumado porque convive com isso todo dia. Tem até influencer superpoderosa. Tudo bem, essa mudança já vem mais ou menos sendo trabalhada anteriormente, principalmente em obras como Thor: Amor e Trovão ou Ms. Marvel. O mundo, agora, está cheio de de superseres, seja os “aprimorados” (seja lá o que isso signifique — parece o termo genérico pra “superser” que a Marvel Studios está usando), seja refugos da Nova Asgard. Mas, em Mulher-Hulk, a coisa é tão casual, que parece que o planeta inteiro já está plenamente adaptado a esse novo paradigma. Acho que, como o UCM ainda não está adaptando X-Men, ainda não chegaram na parte em que a humanidade é preconceituosa.
Esse conjunto de personagens, por exemplo, que vai desde o El Águila (mais um mutante na série) até o Porco-Espinho, por mais que tenha sido usado de uma maneira bem divertida, inevitavelmente levanta a pergunta: o que esses caras fazem? Quando surgiram? Por que diabos eles usam essas fantasias e adotam esses nomes? Colocar o Porco-Espinho na tela e fazer a piada sobre como ele não lava o traje é engraçado, ok, mas pra que ele tem esse traje, pra começo de conversa? Claro, isso é supercomum nos quadrinhos, e a Marvel Studios vem, agora, tentando reproduzir algumas das características das HQs que nunca foram apropriadamente adaptadas em live-action (tirando, talvez, nas séries do CW). Mas, por mais que a produção Marvel seja tão frequente que alguns de nós já estão bem cansados de tantos lançamentos, ela ainda não é suficiente pra comportar essa ideia de um mundo vasto no qual existem pessoas com codinomes e trajes e poderes em todo canto. Nos quadrinhos, não tem só a revista Mulher-Hulk em publicação, tem umas outras 40 revistas simultâneas, e quando um Homem-Touro aparece do nada, você sabe que ele já tinha sido estabelecido 30 anos antes em Demolidor 78, e portanto ele existe e estava por aí fazendo alguma coisa. Aqui, parece só uma referência meio vazia aos quadrinhos e só.
Não que seja a pior coisa do mundo. Mulher-Hulk não é o tipo de seriado que precisa de todo esse pente-fino de lógica, apesar de mexer muito com a lógica do resto do UCM. Mas, olhando especificamente para o que a série quer fazer, parece que ela também não quer muito que façamos um pente-fino em sua comédia. Foi um episódio agradável e tal, mas o humor de Mulher-Hulk é um humor de sitcom média óbvia, na maior parte das vezes, com um “twist” de superpoderes. Quando vimos que Jen iria para um casamento, era óbvio que teríamos “piadas de solteirona”. Agora, em um retiro espiritual, tivemos todas as piadas de terapia de grupo que já vimos em, no mínimo, uns três ou quatro filmes do Adam-Sandlerverso por aí. Com a diferença de que o grupo vestia fantasias esdrúxulas.
Você já viu piada de gente delirante achando que é, sei lá, o Napoleão — mas aqui, é o Sarraceno, e você sabe que ele já esteve em muitos quadrinhos do Blade, é um dos primeiros vampiros do mundo, então ele não está delirando, ele é um vampiro mesmo, e será que é um teaser do filme do Blade! Easter eggs! Referências! Vamos começar a roda de especulações no YouTube!!! E por aí vai. Não é o fim do mundo, mas não é nada revolucionário também.
O que importa é que foi mais um episódio no caminho da Jen de aceitar a Jen em vez da Mulher-Hulk, o que é… uma escolha. Historicamente, uma das características da Mulher-Hulk é o fato de que Jennifer prefere sua forma verde e forte, mas aqui, parece um vai e vem de aceitação e recusa muito esquisito.
Mas, aqui e ali, Mulher-Hulk sempre acaba criando cenas com muita verdade, como por exemplo, todo esse arco do ghosting e o comportamento da Jennifer é muito real. Eu mesmo me vi ali, conferindo o celular sem parar quando quero que uma pessoa responda uma conversa, com o chat aberto arrastando para atualizar e ver se não veio nada novo nos últimos 3 segundos. No fim, a série tem essa força, a força da humanidade dos personagens (quando não estão sendo caricaturas rasas para piadas fáceis).
E, no fim, com tudo que o episódio fez de mais óbvio, principalmente a virada final (se você dá play no episódio, assiste o “Anteriormente” falando só de vilões e Inteligência e tudo mais, e não olha para a montagem dos encontros e o subsequente desaparecimento do Josh com esse mindset, talvez eu até o inveje, você está menos mergulhado nesse mundinho do que eu), preciso dar os parabéns para o que o episódio não faz. Por exemplo: até o momento, Emil Blonsky não é secretamente um vilão. Ele parece realmente reformado, e por mais que a terapia dele seja bobajada new age em sua essência, ele ainda parece bem intencionado. Podemos ter um plot twist a qualquer momento, mas até aqui, não ter o twist é até bem-vindo.
Além disso, se você parar pra pensar, a maior piada do episódio é que a filosofia do “pense no momento, esqueça o celular, não se preocupe com aquele cara, foque em si mesma” é bonita, mas não era a lição correta para aquele momento. Sim, a Jennifer devia estar indo atrás do Josh, que é um capanga (ou, no mínimo, usuário do fórum) da Inteligência. É uma boa sacada, até. Pontos para Mulher-Hulk, suponho.
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