Crítica | Mulher-Hulk ep. 3: Ainda bem que não tem quarta parede, né?

Um arco chega ao fim, no terceiro episódio de Mulher-Hulk. Depois de muito lutar contra suas próprias circunstâncias, Jen Walters parece, ao fim deste capítulo, ter mais ou menos aceitado que agora ela é uma Hulk, e não há como voltar atrás. Além disso, o caso de Emil Blonsky, Abominável, também é concluído, e novas portas se abrem para a trama da série, inclusive com a possibilidade de um “vilão final” para a trama da produção.

Porém, chegar lá não foi fácil. Depois de episódios bem mais objetivos, a terceira semana de Mulher-Hulk teve de apelar para algumas conveniências e piadas fáceis para concluir a transformação de Jennifer — que, mesmo assim, não foi exatamente o foco do capítulo, que teve que equilibrar um “plot A” e um “plot B” e juntá-los na marra, com a força da quebra de quarta parede, salvando as conveniências na base da piada.

Depois de sermos deixados com o problema de que Blonsky escapou da prisão para participar de lutas clandestinas, o que pode impossibilitar a sua soltura em condicional, o episódio já abre com as personagens descobrindo que Wong, o Mago Supremo, foi quem o soltou, e assim temos a primeira cena da Jen olhando para a câmera para nos certificar de que a série não será apenas uma sequência de participações especiais, e… será que isso é uma coisa boa mesmo? Não que Mulher-Hulk dependa de participações especiais do UCM, não é essa a questão. A questão é que a série terá 10 episódios, e tivemos apenas um caso para a advogada Jennifer Walters resolver e eu argumentaria que a série ganharia muito se todo episódio fosse um novo caso, em vez de uma trama maior envolvendo a heroína Mulher-Hulk e inimigos, como este episódio parece adiantar — o que permitiria as “cameos” rotativas, mas nem exatamente precisaria delas. Enfim.

A quarta parede salva Mulher-Hulk mais uma vez, depois de (aparentemente) perdermos metade do episódio com o núcleo de personagens mais insuportável da série até aqui, com um personagem que é uma caricatura bizarramente básica de homem machista escroto (…que, por mais que pareça exagerado demais para a ficção, também é um em cada dez caras reais do nosso dia a dia, infelizmente) num caso que não parece levar a nada, Jennifer encontra o outro advogado do caso do machistinha babaca e Jennifer olha para nós e brinca: “Olha, o plot A e o plot B se juntando!” A metalinguagem de Mulher-Hulk até funciona (apesar de eu ficar me perguntando o que o UCM vai fazer quando a personagem não estiver no próprio seriado… ela vai simplesmente esquecer que está numa série de TV?), principalmente quando brinca com a trama ou a personalidade dos personagens, mas não pode virar muleta para remendar problemas de roteiro.

No fim, toda a trama B serviu apenas para a cena pós-créditos e para dar uma ideia para Jennifer resolver seu próprio caso na trama A, nada muito maior do que isso, e assim, a sensação de perda de tempo persiste um pouco. Pelo menos a trama A é boa, muito por conta da ótima atuação de Tim Roth como o Abominável. Roth consegue fazer com que Blonsky pareça convincente e simpático, ao mesmo tempo em que nos deixa com a pulga atrás da orelha. Não há como saber ainda se, após a resolução de seu caso, ele voltará à série, mas todo o papo da reabilitação e suas “almas gêmeas” tem uma energia de seita muito grande, o que pode ser tanto um problema prático real quanto uma piada recorrente da história. A participação de Benedict Wong como o Mago Supremo Wong também é muito boa — o ator sempre teve ótimo timing cômico, e sempre foi o elemento que fazia o humor dos filmes do Doutor Estranho funcionarem, então não é surpresa.

Paralelo a tudo isso, continuam os comentários criticando o machismo do dia a dia mas, neste, especificamente, o machismo do meio nerd, um problema gigante e real com o qual nos deparamos sempre que qualquer propriedade intelectual é adaptada sem que um homem branco heterossexual esteja no centro do pôster. As críticas são pertinentes e na maior parte das vezes, fazem sentido também dentro do universo da série (acho estranho um dos comentários da montagem mandar o já batido, manjado e burro argumento do “é legal ter heroínas mulheres, mas por que não criar uma nova?” porque ele trata a Mulher-Hulk, uma pessoa real que existe naquele mundo, como uma nova personagem de uma editora, quase como se só Jennifer Walter e esse cara aleatório soubessem que estão numa série de ficção), mas também servem como ponto de partida da aceitação de Jennifer quanto à sua situação.

Por isso, gostaria que isso estivesse em primeiro plano, em vez de, por exemplo, a trama do advogado machista. Ao fim do episódio, temos um ataque da Gangue da Demolição com uma vitória obviamente fácil da heroína, e uma tomada muito significativa dela se levantando e se olhando no reflexo do carro como a Mulher-Hulk, claramente simbolizando uma aceitação dela como uma Hulk… porém, é estranho como essa aceitação veio muito mais como uma necessidade por conta da repercussão pública do que algo mais profundo em nível psicológico.

Talvez a série não precise de nada tão profundo assim. O que ela precisa é ser engraçada. Nesse sentido, ela é mais “simpática e confortável” do que engraçada, mas já é algo. Mesmo assim, depois de todo um desenvolvimento do personagem do Hulk fora das câmeras, é complicado ver mais uma Hulk crescendo em segundo plano, na sua própria história.

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