Home Cinema Crítica | Obi-Wan Kenobi eps. 01 e 02: Star Wars encontra Logan em início melancólico, mas forte

Crítica | Obi-Wan Kenobi eps. 01 e 02: Star Wars encontra Logan em início melancólico, mas forte

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Star Wars é sobre esperança, sempre foi. É sobre encontrar a luz mesmo cercado por trevas, desafiar chances ínfimas, vencer o mal absoluto e espalhar essa esperança adiante. E este também deve ser o tema central de Obi-Wan Kenobi, a mais nova série do Disney+, que traz de volta Ewan McGregor ao papel 17 anos depois de sua última aparição na saga espacial.

A trama se passa em um dos períodos mais sombrios da história da galáxia, quando o Império oprimia sistemas estelares inteiros e os Jedi eram caçados impiedosamente por Darth Vader e seus inquisidores. Entre esses Jedi está um Kenobi quebrado e perdido, bem longe do mestre sábio e poderoso que vimos no Episódio IV da cinessérie. Como ele chegou até lá é uma das respostas que a atração tentará responder, mas com algumas boas surpresas pelo caminho.

Marcas da Guerra

Dez anos se passaram desde que a república galáctica se transformou no Império e a Ordem 66 exterminou incontáveis Jedi. Obi-Wan Kenobi, antes tido como um dos mestres mais habilidosos entre eles, agora vive escondido em Tatooine, vigiando o pequeno Luke Skywalker até que chegue o momento em que ele será treinado… ou pelo menos é o que nós sempre imaginamos. Kenobi aqui está desesperançado, desmotivado e a série até levanta a possibilidade de que ele na verdade está usando sua vigília como desculpa para continuar sem fazer nada e continuar quieto em sua caverna. É um clima de tristeza e melancolia bem forte, quase um Logan de Star Wars, com um herói do passado tentando sobreviver após uma experiência traumática que o deixou de joelhos.

É particularmente bem doloroso para quem acompanhou suas aventuras na trilogia prequel e em Clone Wars vê-lo negar ajuda a um jedi fugitivo e ignorar pessoas em necessidade, e embora a gente saiba o que ele perdeu e como ele se sente, é algo difícil de assistir mesmo assim. A sensação é quase a mesma de quando vimos Luke se recusar a ajudar Rey em Os Últimos Jedi, e a série, inclusive, já está sendo criticada por algumas pessoas pelo mesmo motivo: seu herói se tornou “um covarde”. Eu pessoalmente acho que falta um pouquinho de empatia a essas pessoas, mas isso não vem ao caso aqui.

Vivendo escondido e sem esperança no futuro, Obi-Wan (Ewan McGregor) será forçado a voltar à ação

Uma das minhas preocupações era que a série, que só vai ter seis episódios, enrolasse demais nessa parte da história e tornasse a trama arrastada, mas felizmente não é isso que acontece. Embora relutante, o Jedi recebe uma nova e importante missão: salvar a pequena princesa Leia de sequestradores escondidos em Dayu, um planeta cheio de “escória e vilania,” como ele próprio diria. Assim, ele deixa Tatooine temporariamente, aceitando o trabalho sem saber o quanto isso afetaria o resto de sua vida, para o bem e para o mal.

Novas e velhas ameaças

No encalço de Kenobi, estão alguns personagens já conhecidos pelos fãs de Star Wars, como o Grande Inquisidor (Rupert Friend) e o Quinto Irmão (Sung Kang), mas não vieram sozinhos. Reva, a Terceira Irmã (Moses Ingram) é a mais obcecada em encontrar o mestre Jedi, por motivos que até então não sabemos, mas que são o suficiente para ela desafiar a autoridade de seus superiores e arquitetar todo o sequestro para forçá-lo a se revelar.

Contudo, ainda não sei dizer se gosto de Reva. Eu entendo que só vi dois episódios de seis e que ainda tem história pela frente, mas por enquanto, sem esse contexto ou justificativa, Reva me parece mais uma bully de colégio com um sabre de luz na mão. Ela grita para todos os lados, faz ameaças gratuitas, decepa a mão de transeuntes só para mostrar que pode e não tem a mesma classe e presença ameaçadora que seus companheiros do lado sombrio tem. Claro que isso é algo que pode mudar com o tempo, mas por enquanto, a história não está contribuindo muito para torná-la realmente interessante.

Obcecada por encontrar Kenobi, Reva (Moses Ingram) ainda não mostrou a que veio

O mesmo não pode ser dito da pequena Leia Organa, interpretada por Vivien Lyra Blair. Ela já mostra traços de liderança e aquela atitude desafiadora de autoridade que sempre amamos na personagem durante a trilogia clássica, principalmente quando é direcionada a figuras de poder detestáveis, como na cena em que coloca seu primo arrogante em seu devido lugar. A dinâmica dela com Obi-Wan é gostosa de se assistir, da mesma forma que era quando ela precisou ser resgatada – eu vejo um padrão se formando aí – por Luke, Han e seus amigos em Uma Nova Esperança. Afinal, não é porque ela precisa ser salva que ela tem que simplesmente baixar a cabeça e ficar na dela. Ela vai questionar, vai sugerir soluções alternativas e vai reclamar do que não faz muito sentido, sendo a voz da razão no meio do tiroteio de laser.

Outra grata surpresa é Haja Estree, um clássico “malandro gente boa” interpretado por Kumail Nanjiani, o Kingo de Eternos. Fingindo ser um Jedi, ele transporta pessoas para fora de Dayu na ilegalidade, por um preço, é claro. Star Wars está cheio de personagens de moral duvidosa mas que são impossíveis de se odiar, seja por sua personalidade marcante ou por simplesmente terem um bom coração, e Haja é um deles. Se mostrando alguém cheio de surpresas e um aliado inesperado, ele entra para o mesmo hall de personagens como Hondo Ohnaka, Dash Rendar e o próprio Han Solo, e eu espero ver mais dele nos próximos episódios.

Leia (Vivien Lyra Blair) e Haja (Kumail Nanjiani) são duas ótimas surpresas apresentadas na série

Um bom começo

Esses dois primeiros episódios de Obi-Wan Kenobi são um início forte para uma série com muito potencial e são bem sucedidos em preparar terreno para conflitos maiores que vão rolar mais na frente. A cena em que Kenobi descobre que Anakin Skywalker (mais uma vez vivido por Hayden Christensen) está vivo é bem dramática e Ewan McGregor entrega tudo o que é preciso para deixá-la ainda melhor, o que somado à já confirmada revanche entre ele e seu antigo aprendiz criam uma enorme expectativa no coração de qualquer fã.

A série mostra as consequências da guerra e da queda dos Jedi na vida de seu protagonista sem enrolar demais nisso, tirando apenas o tempo necessário para que vejamos como tudo isso o influenciou antes que percamos o interesse. Ao mesmo tempo, ela também é bem econômica na hora de mostrá-lo em ação, o que é compreensível, já que ele não levitava uma pedrinha sequer há dez anos e está bem fora de forma. Como ele vai recuperar sua confiança e voltar a empunhar seu sabre de luz com a elegância e precisão que tinha no passado, vai ser algo interessante de se acompanhar.

As aventuras de Obi-Wan no Disney+ estão apenas começando

De todo jeito, fica aqui minha torcida para que a série acelere mais um pouquinho, já que serão poucos episódios e ninguém sabe ainda se vai haver uma segunda temporada. Mais do que a segunda edição do “duelo dos destinos”, todo fã quer ver o velho mestre voltar aos eixos, recuperar sua confiança e se tornar a ponte entre as duas trilogias, preparando de fato a galáxia para uma nova esperança no horizonte. E como já sabemos, rebeliões são feitas de esperança.

Obi-Wan Kenobi está disponível semanalmente no Disney+, como novos episódios todas as quartas.

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