Parece estranho dizer isso no quarto episódio, mas o enredo de Os Anéis de Poder parece finalmente ter avançado em direção a algo mais concreto. Não que essa aparente lentidão tenha sido um problema, até agora. É quase como se estivéssemos narrando a história em tempo élfico (ou, digamos, como se estivéssemos lendo um livro). Mas, mesmo assim, é boa a sensação de sabermos para onde vamos.
Na grande tradição da obra de J.R.R. Tolkien, existe sempre a ideia de que os diferentes povos deveriam se unir quando um mal maior surge. O Senhor dos Anéis é, além da história de heróis improváveis na figura dos hobbits, um conto sobre como já houve uma grande aliança entre homens e elfos, e que ela precisa novamente ser travada agora que Sauron ressurgiu. Anéis de Poder não é diferente. Aqui, nos vemos num contexto de desunião e desconfiança, cheio de segredos e profecias.
Por isso, a figura da Galadriel é interessante. Como já está mais do que claro até aqui, Galadriel está certa sobre o retorno de Sauron, mas realmente precisa entender que não é com conflito que ela resolverá conflitos. Aqui, mais uma vez, quando ela podia ter firmado uma aliança com Míriel, a rainha-regente de Númenor, o orgulho (aliado ao desespero) falou mais alto, e o resultado foi sua prisão. A série faz uma boa escolha ao colocar duas mulheres de personalidade forte para bater de frente uma com a outra (me pergunto se existe qualquer linha de diálogo nos livros de Tolkien em que duas personagens femininas conversem uma com a outra…). Míriel e Galadriel são duas personagens bastante parecidas, até, e formam uma boa dupla em cena.
A união das duas só ocorre depois que elas compartilham seus segredos — mais especificamente, o segredo de Miriel, sobre o fato de seu pai ter tentado retornar às tradições élficas, e sobre sua visão ao tocar o Palantir e ver a queda de Númenor. As cenas da visão são lindas, se utilizando de imagens singelas como as folhas da Árvore Branca caindo como um prenúncio do fim, além da ótima ideia de representar a força da visão com a imagem da própria bola de cristal rachando e partindo a realidade. E, mais uma vez, uma personagem tem visões ou pressentimentos ou sinais de que algo está por vir, para manter aquele clima de urgência que o seriado tanto tenta criar. Aqui, funciona.
Como funciona com Arondir e Bronwyn nas Terras do Sul. Abrimos mais uma vez com Arondir e a aparição de Adar, cuja grande revelação é a de que ele é um elfo (…ok, então). Mas o mais importante aqui é a pequena aventura de Theo em busca de comida e a resolução da sua pequena saga. Depois de utilizar novamente a espada quebrada com a marca de Sauron e escapar por pouco dos orques (em cenas que andam na corda bamba entre o verossímil e um episódio de Scooby-Doo ou aquelas aberturas de Austin Powers em que ele toda hora quase fica pelado na câmera, sabe?) e ser salvo por Arondir na floresta — com mais uma belíssima tomada aberta do sol nascendo, salvando o trio —, Theo é encurralado pelo cara escroto da vila, que se revela seguidor de Sauron.
Com a dupla revelação de Adar e de que existem, sim, servos de Sauron entre os humanos, mais a partida de Galadriel ao lado de Miriel para atacar essa ameaça, parece que as coisas realmente começaram a andar no enredo. E é por isso que o núcleo Elrond/Durin ficou tão esquisito neste episódio.
Veja bem, a produção tem uma “sorte” enorme (aspas, pois não é sorte nenhuma, é mérito, mas enfim): além da belíssima Khazad-dum e o altíssimo valor de produção, os dois (mais a ótima Disa) formam uma dupla muito carismática, e qualquer cena com eles é bem-vinda. Mas… aqui, no episódio, depois de termos passado uma semana sem a presença desse núcleo, ficou realmente a sensação de que a série pulou um passo da narrativa deles, e nos vemos, meio que do nada, no meio de um conflito que não havia sido mencionado até então: onde Durin está e por que ele não conta para Elrond. No fim, a revelação foi até bastante inofensiva — a descoberta do mithril —, a não ser que o novo minério seja peça chave na trama a partir daqui.
A impressão que passa é a de que existe a intenção de que todo instante da série seja um momento de crise, e, com essa estrutura separada em núcleos em diferentes lugares, cada um desse núcleos precisa representar uma parte da ameaça iminente. Galadriel, os númenorianos e Arondir estão diretamente lidando com Sauron, e os pés peludos (infelizmente ausentes esta semana) têm a presença do tal “Estranho” que é basicamente um mau presságio vivo. Mas a trama de Elrond e Durin trata de algo muito distante, mesmo que essencial: a construção da forja que será usada na construção dos Anéis de Poder. É algo central ao seriado (…é o nome do negócio), mas também é algo que só vai dar em alguma coisa láááá na frente. Então, eles precisam encontrar alguma coisa um pouco mais palpável para sustentar o suspense, e esta semana, foi esse segredo meio superficial do mithril. Claro, é um estopim para uma desconfiança mútua, mas ainda pareceu fora de lugar.
De qualquer forma, Anéis de Poder começa a andar, e as respostas que recebemos só suscitam mais perguntas, o que, neste momento, é algo muito positivo. Ainda tem muito para acontecer, e ainda mantenho meus chutes (essa lábia do Halbrand grita Sauron pra mim, hein! — mesmo que o velho esquisito tenha dito que o cometa vermelho era o Sauron). É hora da ação começar.
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