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Crítica Sem Spoilers | Doutor Estranho no Multiverso da Loucura: Sem medo de ser meio besta

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Não sei se sou o único que demorou a aceitar essa nova realidade, ou se as coisas estão mudando só agora, de fato, mas Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é um filme de super-herói que realmente, e finalmente, abraçou a experiência de ler gibi. Isso não é necessariamente uma coisa boa. Existem aspectos de “gibi” neste filme que são (pelo menos para mim) um problema. Mas, para nossa sorte, o resultado final é um longa que não mede esforços e não tem medo de ser esquisito, tudo para nos divertir. E diverte.

Em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, Estranho (Benedict Cumberbatch) comparece ao casamento de Christine Palmer (Rachel McAdams), mas este é interrompido quando um monstro interdimensional surge em Nova York perseguindo uma menina, America Chavez (Xochitl Gomez). Estranho a salva, mas quer saber por que o tal monstro está atrás dela; ela responde que é por conta de seu poder único: viagem multiversal. Mas não era o monstro per se que estava atrás dela; ele foi uma criação de Wanda Maximoff, Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), que quer controlar seu poder para chegar a uma realidade na qual seus filhos existam.

E, como você pode perceber pela sinopse, o primeiro aspecto de gibi deste filme fica bem claro: as coisas simplesmente acontecem. Não é exatamente uma progressão da história do Doutor Estranho como personagem (seja ela qual for) e, de certa forma, nem chega a ser a continuação da “Cinessérie Marvel”, já que este filme tem pouquíssima relação, por exemplo, com Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (algo que seria de se esperar). É, no fim das contas, “mais um dia na vida do herói Dr. Estranho”: um problema que ele não sabia que existia, e que só ele pode resolver, bate à sua porta, e ele resolve. É um dos pontos mais fracos do filme, o fato de que ele tenta, mas nunca consegue exatamente provar como as coisas que acontecem neste filme podem ter significado dramático, emocional, para seu personagem principal. As coisas acontecem com ele, mas não temos um arco ou um aprendizado, são mais problemas grandiosos que envolvem a sua área de especialidade, a magia.

Se este filme é uma continuação de alguma coisa, com certeza é de WandaVision. Na verdade, é até uma triste constatação pensar que este não é um filme da Feiticeira Escarlate ou mesmo da Miss América, já que o próprio filme estabelece que o drama das duas é muito parecido: ambas são mulheres jovens com poderes enormes que elas não sabem usar direito. Se este fosse o filme “Miss América”, e girasse em torno dessa nova personagem enfrentando a vilão Feiticeira Escarlate — e, com isso, a América Chavez fosse uma personagem de fato desenvolvida — talvez fosse até um filme mais interessante. Mas, em vez disso, a garota, apesar de muito carismática, não passa de um recurso de roteiro, um verdadeiro “McGuffin” vivo jogado de lá pra cá pela trama.

Já a Wanda de Elizabeth Olsen é o maior destaque do filme, de longe: apesar de ser um salto um tanto grande do ponto que ela termina o seriado para o momento em que começa o filme, a personagem está 100% vilã — e isso é ótimo. Em certos momentos, a personagem é praticamente uma mistura de Jason com Carrie, a Estranha, uma entidade aterrorizante perseguindo os heróis em corredores escuros. E Olsen parece adorar criar essa vilã tresloucada, é a melhor performance do filme — além de ser a personagem que, de fato, passa por um arco com começo, meio e fim.

E é essa a força principal  de Doutor Estranho 2, as escolhas estética de seu diretor, Sam Raimi, o maior acerto da Marvel Studios para esta produção. O primeiro filme tentou ser “viajado”, mas o máximo que produziu foram imagens muito parecidas com o que Christopher Nolan criava em A Origem. Já aqui, Raimi salpica o filme com seus maneirismos característicos e cria alguns dos poucos momentos com personalidade estética dentro do MCU: temos transições em círculo bregas, imagens sobrepostas para formar verdadeiros caleidoscópios que deixam até um longo discurso expositivo muito mais interessante, além de mergulhar o filme num camp delicioso, principalmente quando resgata seus enquadramentos e movimentos de câmera dos tempos de Uma Noite Alucinante ou mesmo Homem-Aranha 2. Essas cenas são ótimas.

Claro, o destaque para Wanda e a boa direção de Sam Raimi serão grandes tópicos nas discussões, mas têm uma chance enorme de serem eclipsados pela cena dos Illuminati. O que posso adiantar é que a sequência toda é boa, e é usada para expor informações importantes para o andamento da trama (que podiam estar em qualquer outro contexto, mas enfim), mas não é uma cena essencial. Não que precise ser —já que boa parte das coisas legais desse filme nem precisavam estar lá — mas tem isso.

Em última instância, esses ótimos elementos, que fazem do longa uma experiência muito divertida, podem até disfarçar, mas não eliminam o fato de que o que deveria ser o centro da história, ou seja, o próprio Doutor Estranho, é quase uma nota de rodapé, no fim das contas. O roteiro tenta criar algo em torno da pergunta “Você é feliz?”, mas, como esse nunca foi um tema real do personagem, e como está enterrado num emaranhado de acontecimentos desse… bom, desse multiverso de loucura, acaba soando falso e inacabado. É um filme do Doutor Estranho, mas se o problema prático do filme não tivesse relação com magia, podia ser um filme sobre qualquer outro personagem. Não que isso importe — afinal, para o bem e para o mal, não estamos saindo de casa para ver “o Doutor Estranho”, mas sim porque tem um logo da Marvel no pôster.

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