Olá, eu sou Anderson Abraços, conhecido como o Haterman, e esse é minha primeira crítica escrita aqui no portal Geek Here em uma coluna que escreverei toda as segundas-feiras. Escolhi Kamen Rider por eu ser um grande fã de tokusatsu, e porque esse é o mais recente material oficial que temos acesso aqui no Brasil, é importante que vocês assistam e ajudem a movimentar o mercado para que as empresas vejam e quem sabe voltem a se interessar pelo nosso país. Kamen Rider Black Sun já pode ser assistido na Prime Vídeo e será que realmente vale a pena?
Para falar de Kamen Rider Black Sun é importante separar essa análise em 3 partes: Nostalgia, Tokusatsu e a série.
A nostalgia
Começando com a nostalgia, se você vai assistir Black Sun pela nostalgia, sugiro que pare aqui, porque a série não tem nada de nostálgica, salvo algumas homenagens e nada mais. Então, para poupar seu tempo, assista a série clássica que continua maravilhosa, e se for ver Black Sun, veja com outros olhos.
Shadow Moon e Senhor Black se enfrentam!
O Tokusatsu
Kamen Rider Black arrebanhou uma grande quantidade de fãs aqui no Brasil. Isso porque ele foi o primeiro Kamen Rider exibido aqui na saudosa Rede Manchete, e também pelo visual do protagonista, aquela roupa preta e olhos vermelhos são inesquecíveis até hoje. Kamen Rider Black também tem o melhor vilão de Kamen Rider até hoje, o Shadow Moon.
Para quem não se lembra, Kamen Rider Black conta a história dos irmãos Issamu Minami e Nobuhiko Akizuki, que na noite do seu 19º aniversário foram raptados pelos Gorgom para serem transformados em seus imperadores seculares e lutarem entre si uma batalha de sucessão para ver quem se transformaria no novo Grande Rei.
Agora que lembrei vocês um pouco sobre o Kamen Rider Black, vamos falar de Kamen Rider Black Sun. Como parte do projeto de aniversário de 50 anos de Kamen Rider, vários projetos diferentes foram anunciados, e aproveitando também os 35 anos de Kamen Rider Black, uma releitura da série original foi anunciada.
O escolhido para direção foi Kazuya Shiraishi um novato dirigindo séries de tokusatsu, mas com uma ótima experiência como diretor, ele dirigiu vários filmes sobre a yakuza (a máfia japonesa) entre os mais famosos estão The Blood Wolves, de 2018, e sua continuação, Last of the Wolves, de 2021. Ambos os filmes com críticas sociais pesadas, uma interação extremamente emocional entre os atores, e uma construção de ambientação bem robusta.
Tudo isso era o cartão de visitas perfeito para trazer o novo mundo de Kamen Rider Black Sun com o esplendor esperado, mas não rolou.
The Blood Wolves e Last of the Wolves, respectivamente
Para sanar a falta de experiência de Shiraishi, o produtor Shinichiro Shirakura trouxe para o projeto o experiente Shinji Higuchi, braço direito de Hideaki Anno, que estava bem próximo de Shirakura por causa do vindouro filme Shin Kamen Rider, e também por sua experiência recente com Shin Ultraman.
O Trio Shirakura, Higuchi e Shiraishi poderiam ter criado um marco para o mercado de tokusatsu, sem a obrigatoriedade de venda de brinquedos, já que a série era uma produção para Prime Video, o que dava mais liberdade para equipe criativa, e por último não tinha foco no público infantil como as séries tradicionais exibidas as 8:00 horas da manhã dos domingos na TV, tudo que esperávamos era algo bom…
Shinji Higuchi
Para o elenco, o veterano e premiado ator de Drive My Car, Hidetoshi Nishijima, como o protagonista Issamu Minami. Tomoya Nakamura deu vida a Nobuhiko Akizuki, Takiro Miura interpretou outro vilão memorável, Taurus. Um nome que vou deixar em destaque pela importância na trama é da atriz Kokoro Hirasawa, que interpretou a personagem Aoi Izumi. O elenco tem outros bons atores, mas os destaques principais são estes já citados.
Issamu e Nobuhiko se transformam para batalha
Vamos falar de Black Sun como série
Apesar da produção japonesa, os serviços de streaming têm alguns formatos que são respeitados e é quase que um enlatado oferecido pelas plataformas. Um exemplo fácil são aberturas, normalmente mais curtas, sem tanta movimentação como as clássicas de um tokusatsu, com imagens, fotos paradas, silhuetas, músicas instrumentais, e no caso de Kamen Rider Black Sun segue o molde até o episódio nove, com uma grande homenagem no episódio 10. Outras coisas fáceis de encontrar nas séries desses serviços são linhas do tempo diferentes, acontecimentos do passado e do futuro se misturam na tentativa de apresentar histórias complementares, construção de personagens. Black Sun também bebe dessa água.
A história mostra um Issamu Minami cansado, quase desistindo de um mundo onde humanos e os kaijins (nome dado aos monstros mutantes clássicos) vivem por décadas juntos em um conflito quase sem fim. Nesse cenário somos apresentados a Aoi Izumi, uma jovem estudante que em conferência na ONU, usa um discurso pacificador onde humanos e kaijins podem viver juntos, em seu discurso ela usa a frase: “A vida dos humanos e dos kaijins têm o mesmo valor, e elas superam o valor da Terra”.
É claro que a série não poderia existir só na paz, e logo os confrontos são deflagrados, levando fatos do passado a serem desenterrados no futuro e personagens como monstros clássicos de Kamen Rider Black aparecer, entre eles o Morces, e o lendário Monstro Baleia! Lembram dele, pedindo para o Black proteger os oceanos?
Os visuais novos do Monstro Baleia e Morces
Pois é, a trama em si é relativamente parecida, o Grande Rei (agora um gafanhoto gigante) está morrendo, e sem ele, o Heaven, uma espécie de pasta capaz de prolongar a vida dos Kaijins e também potencializar o seu poder não pode ser mais produzido. Os jovens Issamu e Nobuhiko, que receberam as King Stones, precisam juntá-las para que um deles seja o sucessor do Grande Rei. Bizarro que o Grande Rei da série só serve como um grande provedor de Heaven.
O governo japonês na figura do Primeiro-Ministro do Japão, Shinichi Dounami, é apresentado como a grande mente maléfica por trás de tudo, uma vez que ele é o responsável por gerenciar todos os recursos do Grande Rei. Fica por conta deles a criação de novos Kaijins, bem como toda a distribuição do Heaven, além claro, outros pontos, como a venda de Kaijins ilegais, banco de apostas, e tudo de podre que vocês podem imaginar.
Com os pontos principais na mesa, eu começo a analisar de verdade a série. A maneira como Issamu foi construído, não ajuda em nada para mim o principal investimento da série que foi a contratação do ator Hidetoshi Nishijima. Só para vocês terem uma ideia, o Nobuhiko tem mais falas que ele ao longo da série, o ator tem um potencial enorme que foi simplesmente deixado de lado em detrimento de construir esse Issamu mais amargo, e que tem poucas falas e emoções. Para essa interpretação era mais fácil ter mantido o Tetsuo Kurata, o Kamen Rider Black original.
O investimento que foi feito em Hidetoshi Nishijima, não foi feito no figurino da série que apresentou os Kaijins mais pobres de todos os tempos, são somente pessoas usando roupas normais, com cabeça, mãos e pés de monstros, chega a dar vergonha o visual do Morces em algumas cenas, até Lion Man tinha monstros com o visual mais bem trabalhado que o da série, basicamente só os protagonistas tem suas roupas completas, todos os outros monstros e até os de maior escalão como o trio dos Gorgoms tem o visual bizarro.
Faltou dinheiro para produção e os Kaijins ganharam esse visual horrível
E pensando na tomada de decisão as batalhas também sofreram pelos diretores não decidirem ao certo qual caminho seguir. Você tem Issamu e Nobuhiko que treinam arduamente movimentos de artes-marciais, com chutes, socos e até movimentos mais elaborados, que são simplesmente esquecidos depois da transformação em Kamen Rider. Quando ambos se transformam nos gafanhotos reis, eles partem para um estilo de luta mais violento, com mordidas, decapitações, membros arrancados e muito, muito sangue. Lembrando o estilo do Kamen Rider Amazons, mas infelizmente o estilo estético de Black e Shadow Moon não ajuda muito, como é o caso do Amazons que tem um design feito para esse estilo de luta mais grotesco.
“Haterman, você falou do Taurus no começo, dos sacerdotes do Gorgom em algum momento do texto, e aí?” Pois é, meu intrépido e atencioso leitor, eu falei, mas eles são tão facilmente esquecidos que eu esqueci deles. O Taurus muda de lado tantas vezes na série, e sem motivações suficientes que se tornou um personagem descartável, e tanto que nem no momento mais marcante dele na série, consegue despertar o mínimo interesse em quem está sentado assistindo, além disso os sacerdotes de Gorgom são uma espécie de pau mandados do governo, com personalidade rasa e uma construção praticamente inesquecível, é mais fácil lembrar do Kaijin andorinha do que deles.
Taurus um personagem que tanto faz como tanto fez na série, esquecível
Por fim o recado político social que Kamen Rider Black Sun traz ao mundo, Kazuya Shiraishi pega muito pesado ao trabalhar temas como racismo, xenofobia, discriminação, e que todo mundo tem o seu lugar no mundo independente da sua raça, escolha ou classe social. E a luta de Aoi para tentar encontrar um mundo de paz para todo mundo segue desenfreada até o final da série.
O ponto negativa nessa parte para mim foi a questão de que tem que se fazer de tudo para alcançar seus objetivos, em determinados momentos da série são mostradas crianças treinando para batalha, alguns até fazendo coquetel molotov, eu realmente não concordo com isso. Acredito que sempre teremos batalhas pela frente, algumas vão obrigar a gente a tomar um lado, assumir uma posição, mas o que difere a gente dos vilões? O que faz os heróis serem heróis e os vilões serem vilões? É justamente a capacidade de cada um saber até onde pode ir para alcançar seus objetivos, os vilões são capazes de qualquer coisa para concluir seu plano maléfico os heróis têm limites, e não acredito que transformar crianças em terroristas seja uma boa escolha, tem outras maneiras deles resistirem.
Bom, já fui muito longe, deixei propositalmente vário nomes e personagens fora desse texto, porque vocês também devem assistir a série e ter sua opinião, a minha, de maneira bem sincera é que Kamen Rider Black Sun não deveria ter sido produzido, realmente a série não vale a pena. Não sei se foi o orçamento baixo, a visão do diretor, os constantes pitacos do Shirakura mas, foi difícil de assistir e no final fiquei com gosto agridoce. Se talvez tivesse terminado com 25 minutos o episódio 10 minha nota seria 8, mas como foi até quase 50, a nota cai para 5 e um 5 dado com muito choro.
De qualquer maneira vocês podem assistir Kamen Rider Black Sun já e vou deixar o link aqui direto para página da Prime Video.
É isso, semana que vêm tem mais, valeu!
The post Kamen Rider Black Sun, amar ou odiar? appeared first on Geek Here.