Primeiras Impressões | Dance Dance Danseur: Brilhante… cintilante… bum?

O primeiro episódio de Dance Dance Danseur foi daquele tipo de estreia que tenta fazer uma espécie de “corte transversal” do anime: não só começar a história, mas ser um exemplo de tudo que será possível encontrar na série inteira. O resultado foi um episódio muito forte e muito eficiente, mas às vezes um tanto apressado.

Estruturalmente, ele parece ser muito similar a, por exemplo, Hibike! Euphonium, um anime de música que toma emprestado muitos elementos de anime de esporte. Na trama, o protagonista é o garoto Junpei, que ficou encantado com um bailarino quando criança e quis fazer balé, apesar de o pai, um coreógrafo de filmes de kung fu, não gostar muito da ideia porque já confundem demais o garoto com uma menina. Junpei faz balé e tem que lidar com bullying dos outros meninos, até que o pai morre, e o rótulo de “homem da casa” é jogado sobre seus ombros, o que o faz sair do balé e buscar algo mais “viril”, no caso, o Jeet Kune Do do pai. Já adolescente, ele é meio que arrastado por uma colega de classe até o estúdio de balé da mãe e agora precisa se decidir se vai ceder à sua paixão pelo balé e se jogar por completo nessa vida, para participar de um concurso que acontecerá em breve.

A produção do estúdio Mappa, pelo menos no episódio 1, acerta em tudo que é necessário para trazer essa premissa à vida. Os designs de personagem originais do mangá de George Asakura já ajudam a dar uma dinâmica à todas as cenas, com seus corpos alongados e seus olhos gigantescos e brilhantes. O trabalho do Mappa foi o de animar os passos de dança com precisão e graça, e a direção de Munehisa Sakai eleva as cenas certas, como o momento em que Junpei começa a dançar no estúdio e a câmera ora acompanha sua velocidade, ora muda para uma visão em primeira pessoa, para capturar a por que, exatamente, a experiência de dançar balé encanta tanto o menino, e por que a habilidade dele é tão impressionante. Dance Dance Danseur não é o tipo de anime que dá pra economizar, e a direção dessas cenas vai até o fim.

Outro destaque nesse sentido é a ótima sequência de abertura, que também utiliza essa câmera em primeira pessoa, mas mudando entre os pontos de vista de vários personagens para capturar o dia a dia deles entre a escola e o balé. É lindamente animado e extremamente criativo — uma pena que eles tenham escolhido um jpop que poderia ser a abertura de qualquer outro anime, em vez de alguma música que remetesse mais à temática da série.

Mas nada disso se sustentaria se os personagens não fossem cativantes. Não conhecemos muito bem ainda o restante do elenco —  Miyako e sua mãe Chizuru ainda não tiveram tempo para brilhar de verdade — mas a caracterização de Junpei funciona como uma ótima espinha dorsal da série. Claro, fazer uma série sobre balé com um protagonista masculino e tratar de preconceito e masculinidade tóxica parece até óbvio, mas não deixa de ser pertinente. O flashback dele quando criança é um dos melhores momentos da estreia: desde a escolha de fazer com que ele tivesse cabelos longos e bonitos pra depois cortar e ficar com o penteado mais sem graça — e, logo, mais “masculino” — possível, passando pelas camadas de expectativa que ele teve que suportar, com o Jeet Kune Do do pai e a ideia de “homem da família” sendo jogada para cima dele num momento de fragilidade. Essas muitas pressões carregam a história de um alto potencial para conflito e drama.

Porém, se eu tivesse que apontar um problema na condução do anime, com certeza seria uma necessidade de forçar o comportamento dos personagens de maneira pouco natural, em alguns momentos. Existe, por um lado, aquela necessidade já citada de fazer um corte transversal da “experiência Dance Dance Danseur”, que parece ter apressado todo o andar do episódio 1 para que mais coisas acontecessem, e com isso, parece que toda tomada de decisão até aqui é repentina e impulsiva demais. Parte disso também serve para criar mais drama (por exemplo: Junpei acabou o episódio com mais uma pressão, a de se decidir agora, de bate-pronto, a largar tudo e se dedicar 100% ao balé), e às vezes a história consegue conduzir por meio da comédia (como o Junpei ir até o estúdio porque viu a calcinha da menina e acha que ela está a fim dele), mas a sensação geral é a de que eles passaram do “ponto A” pro “ponto B” rápido demais.

Por outro lado, às vezes parece haver uma necessidade de fazer com que os personagens sejam, como posso dizer… “poéticos” no seu comportamento, o que faz com que eles ajam e falem de modo (pelo menos pra mim) nada natural. Os piores casos para mim foram o Junpei ainda criança interrompendo o pai e começando a dançar do nada, como se ele fosse movido pela dança de modo sobrenatural; e a frase que ele diz quando vê o bailarino, “Brilhante… cintilante… bum!!”, que eu sinceramente não consigo conceber qualquer ser humano, quem dirá uma criança de 7 pra 8 anos, falando algo assim voluntariamente. A frase vira até uma espécie de bordão do Junpei, como quando ele está no treino de Jeet Kune Do e diz não “sentir aquele bum”… É algo que eu sentia, também, na leitura de Your Lie in April, o que me faz pensar que pode ser uma questão da premissa — duas histórias que colocam crianças criando arte e acham que eles precisam “falar como artistas”, talvez?

Mas essas coisas não chegam a estragar a experiência desta que foi uma das estreias mais promissoras desta temporada. Dance Dance Danseur promete drama, um pouco de comédia, a tensão de um anime de esporte e danças belissimamente animadas e tem potencial para ser um dos destaques deste ano.

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