Eu estou 100% intrigado com Shikimori-san.
Eu assisti um belo número de estreias desta temporada. Spy x Family é disparada a estreia mais aguardada da temporada, e alcançou (quase) todas as expectativas. Dance Dance Danseur foi uma grata surpresa. Love After World Domination é tão engraçado quanto sua premissa prometia. Vários animes muito legais (e alguns péssimos). Mas nenhum me deixou tão intrigado quanto Shikimori’s Not Just a Cutie.
Não é um anime fantástico. Aliás, longe disso. Não é essa a questão. Como produção, ele é muito bem feito, então tem isso. As cores são tão vivas que parece que estou vendo um chiclete em forma de anime. Às vezes, isso é legal: eu gosto que o cabelo roxo do protagonista já o deixa pelo menos uns 10% menos genérico do que poderia, e a menina principal é obviamente um enorme feito de design — Shikimori é uma concorrente ao título de Melhor Waifu Criada em Laboratório por Cientistas do Mal do Ano, única até agora a desafiar a Marin de My Dress-up Darling. Em outros momentos, atrapalha um pouco: tudo é tão lindo que o protagonista “todo desgrenhado” por ter se estabacado diversas vezes continua a imagem da perfeição; e tem aqueles olhos esquisitos, que parecem aquelas artes com pintura digital do Masamune Shirow no começo dos anos 2000.
E tem muita coisa que eu acho, digamos, objetivamente legais no anime. Na trama, temos o protagonista Izumi que namora a menina-título Shikimori, e só o fato de eles já serem namorados eu já acho legal. Além disso — apesar de a abertura adiantar um pouco de drama, seja ele qual for — aparentemente, o anime é a história de um relacionamento saudável. Por conta de não ser uma história sobre problemas de namoro, desencontros ou desentendimentos, pelo menos o primeiro episódio apresenta uma série que é quase um slice of life, no qual vamos acompanhar os namorados e o grupo de amigos à volta deles em seu dia a dia, na escola, saindo pra jogar boliche e se divertir, etc. É um anime pra ver e relaxar, e não se preocupar demais com nada.
…mas eu sou eu, e eu me preocupo demais com qualquer coisa. Por isso, Shikimori-san me intriga. Não é questão, mais uma vez, de eu ter amado o anime. Eu nem sei bem se gostei dele, apesar de achá-lo razoavelmente inofensivo, não me fez adorá-lo mas não me fez odiá-lo também. Não tem nada de mais no anime per se. Mas sua premissa é interessantíssima. Porque não é só o anime dos dois namoradinhos. A Shikimori não está no título por acaso. Ela é “especial”. E por que ela é especial?
Porque “ela não é só fofinha”.
E o que isso significa?
Se você der uma olhada em sinopses e trailer e tudo mais, parece que a Shikimori é vista como uma menina fofinha-kawaii-exemplar mas tem um “outro lado”, que sempre foi mostrado como uma menina… irritada? Grossa? Violenta? Algo do tipo, digamos. A primeira cena que mostra isso é quando Shikimori salva seu namorado inútil de ser atropelado, faz uma “cara de mau” (??) e diz “para de me dar trabalho”. Então, é isso? Ela é meio grossa às vezes, e por isso quebra a imagem de moça fofinha? Mais tarde, ouve falarem mal do namorado, e faz cara de nervosa pros caras, o que continua essa linha, mas pouco antes disso, o que denota essa “não-kawaiizice” dela é uma cena em que ela comemora ter caído na mesma sala do namorado com soquinhos no ar, o que… não tem nada de mais?
Mais tarde, temos a cena do boliche, e é aí que as coisas começam a ficar interessantes, porque existe um início de algum debate que eu espero muito que vá para algum lugar (mas posso estar sendo só otimista demais): as amigas dizem que Shikimori precisa jogar pior que o namorado, porque é isso que se espera de mulheres, algo próximo de uma subserviência ao homem — o que é muito difícil com o Izumi, porque, pra ser subserviente a esse moleque, só sendo um peixinho dourado num aquário. Ele erra todas as bolas, mas incentiva a namorada quando vai jogar (porque o relacionamento deles é ótimo, e isso é objetivamente uma coisa muito legal e bonita de ver); ela fica feliz, se empolga e faz uma sequência de strikes. Pouco depois, uma placa vai cair na cabeça do moleque, ela salta, dá uma voadora giratória, amassa o negócio no meio e joga pro meio da rua, por puro instinto ninja.
Então, queléquié? Por um lado, várias das cenas que mostram esse “outro lado” da Shikimori a retratam, basicamente, como uma pessoa normal. Porque, veja bem, eu entendo que exista uma expectativa de comportamento fofinho e casto para ela em específico, como se fosse uma idol (chegam a chamá-la de idol na rua, num momento), por conta de ela ser hiper-super-bizarramente linda, e existe um esforço de desenhar as outras meninas como não-tão-bonitas quanto ela para dar esse contraste; mas as outras meninas do grupo dela não têm esse comportamento, e cada uma delas tem seus momentos de normalidade e seus momentos de personalidade esquisita (cada uma com sua piada: uma é mais “moleque”, a outra é esquisita e inexpressiva), então a série reconhece que não se comportar o tempo todo de um jeito só é algo normal para seres humanos.
Por outro lado, existe o aspecto de ela ser, bom… o Batman. Ela soca um apagador no ar, pega um jornal voando sem olhar, joga boliche como um profissional, chuta uma placa pesada pra longe como se fosse o Van Damme no auge. OK, não é o comportamento que se espera da menina fofinha. Mas também é o oposto de um conflito. De início, eu achei que a premissa seria que ela “na verdade, não é perfeita” — quando, em vez disso, o negócio é que “ela não é perfeita, é mais que perfeita”.
…é essa a história? Talvez, se o anime fosse algo como Sakamoto Desu ga?, jogando pro nonsense idiota, seria uma coisa, mas Shikimori’s Not Just a Cutie tenta ser algo assim, mas mais contido, misturado com um romance bonito e inofensivo. É esquisito. Não é ruim, e talvez só eu esteja estranhando tanto. No fim, é um anime bem feito, com muitos elementos positivos e muitas cenas divertidas. Mas a premissa em si é algo que me fascina, e eu nem sei direito explicar por quê.
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