Crítica | Lobisomem na Noite é sucinto, divertido e devia ser o modelo da Marvel

Universo Cinematográfico Marvel tem todo um histórico de tomar liberdades nas adaptações de seus personagens. Muitas vezes, são sagas desconfiguradas das quais só sobram o nome (vide Guerra Civil ou Era de Ultron), às vezes, são origens e poderes completamente modificados ou simplificados (como a Ms. Marvel). Mas, às vezes, não tem grande problema fazer um pouco disso.

Nos quadrinhos, Jack Russell, Lobisomem, é um personagem originalmente bem sem graça. Apesar de descobrirmos com o passar das edições de Werewolf by Night todo o histórico de sua família, o envolvimento do Drácula e do livro mágico Darkhold (que ficou famoso agora com a Feiticeira Escarlate), o próprio personagem é só um moleque branco sem graça, que costuma se envolver em aventuras à la Hulk, nas quais ele se transforma, vira uma fera irracional, vence, e depois acorda sem saber o que aconteceu direito. Não utilizar praticamente nada disso no especial Lobisomem na Noite não é nenhuma perda significativa.

Inclusive, a versão Gael Garcia Bernal do personagem já é 10 vezes mais carismática que o original logo nos primeiros instantes de tela. No especial — que não é uma série, veja bem; é realmente apenas um episódio de 50 minutos, no mês do Halloween —, vários caçadores de monstros são reunidos na mansão da família Bloodstone para decidir quem vai herdar a Pedra do Sangue, uma joia mágica (em outros tempos, já estaríamos especulando se não é uma Joia do Infinito) com poderes místicos. Elsa Bloodstone (Laura Donnely), também caçadora de monstros, seria a herdeira, mas como abandonou a família, criou-se uma competição: a pedra seria ligada a um monstro poderosíssimo, que seria solto num labirinto, e quem chegasse a ele primeiro, ficaria com a pedra — e vale tudo, inclusive matar os adversários.

A competição é a estrutura perfeita para um especial sucinto e objetivo: é extremamente simples de se entender sem muitas explicações. E, para mantê-lo assim, o roteiro de Heather Quinn e Peter Cameron e a direção de Michael Giacchino (mais famoso por ser compositor de várias trilhas sonoras de filmes como Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e séries como Lost, e que começou agora a se enveredar na direção) empregam também uma bem-vinda e muito eficiente economia narrativa na apresentação dos personagens.

Não precisamos de um background tão complexo assim para entender as motivações de Elsa Bloodstone, por exemplo. E nem precisamos saber nada sobre Jack Russell para saber que ele é diferente dos demais: e é aí que entra Bernal e a composição de seu protagonista, que automaticamente se destaca dos demais com uma postura muito menos arrogante, um jeitão de “peixe fora d’água” muito divertido, e sempre muito contido, algo essencial no decorrer da trama. Pontos também para o ótimo figurino, além da maquiagem talvez “ritualística” que sugere todo um passado para ele sem que tenhamos que, de fato, ouvir um discurso expositivo sobre isso.

Claro que o maior destaque acaba sendo para a direção e, principalmente, fotografia do especial. Simplesmente ser em preto e branco não quer dizer muita coisa, obviamente. E, claro, existe a óbvia camada de homenagem aos clássicos do terror nessa escolha estética, mas não para por aí. Antes de mais nada, essa fotografia P&B ajuda muito a série com seus efeitos especiais e, principalmente, nos cenários, que acabam precisando menos de um realismo duro e ganham um pouco mais de liberdade para brincar: repare no uso de uma iluminação completamente artificial em vários lugares que não fazem o menor sentido, como painéis iluminados no meio do labirinto ou mesmo túmulos com um “backlight” como se fosse uma fachada de cinema retrô. Tudo isso para criar mais contraste e um visual que salta mais aos olhos, sem medo de perder verossimilhança.

Além disso, não é só uma homenagem aos filmes de terror porque tem monstro e é P&B; existe uma camada de senso de humor mais bobo no especial que é menos “humor Marvel” e mais um humor, digamos, Família Adams. Menos tiradas sarcásticas e mais um pouco de humor físico e uma expressividade mais teatral, aqui e ali, que dão um charme próprio ao especial.

Não sei até que ponto Lobisomem na Noite vai ser daqueles lançamentos Marvel que vão gerar uma onda de novas especulações para futuros filmes. Além do Lobisomem e da Elsa Bloodstone, o tal monstro a ser caçado na competição (não vou dar o spoiler aqui) é um monstro das HQs muito querido (com o qual não tenho nenhuma familiaridade, inclusive), e todos esses personagens, é claro, têm potencial para dar as caras em Blade, por motivos óbvios. Tirando isso, o especial faz exatamente o que qualquer nova obra do UCM devia fazer: conta uma boa história de forma sucinta sem se preocupar em virar um trailer de futuras séries e filmes da megafranquia. Inclusive, o “limite” de contar sua trama fechada em apenas um “episódio” fez muito bem ao roteiro, principalmente considerando as várias séries Marvel no Disney+ que podiam ficar sem pelo menos metade de seus episódios sem grande perda para a trama. Além de divertir, Lobisomem devia servir de modelo para a Marvel Studios daqui para a frente. Mas aí, seria esperar demais.

The post Crítica | Lobisomem na Noite é sucinto, divertido e devia ser o modelo da Marvel appeared first on Geek Here.

Related posts

Dexter Pecado Original traz resposta para mistério da série original após 18 anos

O que é CRISPR e quais são suas implicações para a humanidade?

Funko Pop! do Homem de Ferro: versões do herói a partir de R$89